domingo, maio 28, 2006

MANUEL MARIA CARRILHO VS MEDIA



Será que o livro Sob o signo da verdade tem sido suficientemente analisado no
que diz respeito ao estado do jornalismo e dos media em Portugal?
Muitas intervenções e textos de opinião sobre este caso, tanto nos media como na
blogosfera, limitam-se a desancar de alto a baixo a figura controversa de Manuel
Maria Carrilho. Porém, não se lhe pode negar a capacidade, talvez a coragem, de
pôr o dedo na ferida, num país em que a resignação e a maledicência se substituem
aos debates incómodos.
Associamo-nos assim, a todos aqueles que nesta polémica estão contra a corrente,
aos que não desprezam as capacidades intelectuais e políticas de Carrilho e aos que
não esqueceram a sua actuação inovadora enquanto Ministro da Cultura.
Fazemos questão de participar no debate, actualizando sucessivamente este post.
Esperamos contribuir deste modo para que o caso Carrilho vs. Media não seja
rápidamente abafado, como tantas vezes tem acontecido com outras questões
essenciais na sociedade portuguesa.

Este domingo, 28 de Maio, constatámos um saudável contributo para a discussão no
site do Clube de Jornalistas, que traz em "1ª Página" um conjunto de links sobre
a polémica, apresentando ainda o Prefácio do livro de Manuel Maria Carrilho.
Por sua vez, o blogue Lisbonlab, de Hugo Neves da Silva, reúne os links referentes
à onda de posts que assolou a blogosfera na sequência do debate televisivo Prós &
Contras (RTP, 23 de Maio). Entre os blogues que marcaram a diferença, salientamos
o Insónia e o Xatoo (v. Ligações no final do texto)

Para já, aqui fica o texto de Paulo Varela Gomes, em carta ao director do jornal
Público (via Xatoo, 23 de Maio)
“Sobre Carrilho, duas coisinhas que se arriscam a ficar esquecidas no meio da
confusão: foi o melhor ministro da Cultura que o país teve desde o 25 de Abril e,
se tivesse sido eleito para a Câmara de Lisboa, teria sido, muito possivelmente, a personalidade de que a cidade desesperadamente precisa desde Duarte Pacheco
nos anos de 1940.
O problema de Carrilho é que não percebeu que os politicos não podem ser
“famosos” como são os outros “famosos”, jogadores de futebol, actores e actrizes, apresentadores de televisão, “famosos” profissionais. A todos estes, os media
pedem a exibição da vida familiar e de alguns pecadilhos. Todos estes podem dar
facadas nos casamentos e noivados, apanhar bebedeiras, descobrir o corpo à
beira de piscinas, vender os direitos sobre fotografias, etc. Sem isso não teriam
interesse mediático.
Mas os politicos não. Os politicos da era da televisão e da democracia de massas
têm de parecer humanos mas não podem verdadeiramente sê-lo. Devem ter e
exibir discretamente uma vida familiar, sim, mas apenas de dois tipos: ou a do
avozinho simpático tipo Cavaco Silva ou a do robot sem verdadeira vida familiar
como Blair ou Sócrates. Devem mostrar sentimentos, mas apenas os mais banais
e com o maior “sentido de Estado”. Ai deles se dão a mais pequena escorregadela.
Se aparentam ter qualquer afecto pronunciado. Se alteram a voz. Se se ofendem.
Os media dão cabo deles sem nenhuns escrúpulos. E depois vêm queixar-se (todos
contentes) de que os politicos que temos não valem nada e não têm nenhum
interesse humano.
Carrilho devia ter percebido isto? Não sei porque é que devia. Tão pouca gente
percebe”.
(R)

Ligações em actualização:
ALMOCREVE DAS PETAS (Masson) O jornalismo segundo "os próprios" ou o caso Carrilho
Aforismos do sr. Karl Kraus... dedicados a senhores prudentes
O AMIGO DO POVO (Fernando Martins) Carrilho escreveu um livro...
ASPIRINA B (Luis Rainha) Sob o signo da incubadora (2)
AUTO-RETRATO (Sérgio Lavos) O confronto
ESPLANAR (Carlos Leone) Para que serve (até agora) a polémica da hora
ESTADO CIVIL (António Guerreiro) Carrilho e o seu duplo
INSÓNIA (Henrique Fialho)
Tadinhos Para que serve (até agora) a polémica da hora
Paranormal Vendo, lendo, ouvindo Prós & Contras Um livro corajoso
KAOS Um polvo de mãos invisíveis
A MEMÓRIA INVENTADA (Vasco M. Barreto)
Vaidade, inveja, vacuidade (20 Maio)
PLANALTOS (Jorge P. Pires) Tiros com silenciador
XATOO O "arrastão" Carrilho Frases soltas O arrastão Carrilho, parte II
[R]

Fotografia > Fernando Lemos (n. 1926)
> A mão e a faca, 1949/52 (Colecção Berardo)

Por ser uma das nossas preferidas, esta fotografia de Fernando Lemos foi mantida
em reserva no arquivo digital do Ultraperiférico, aguardando um tema marcante.
Chegou a hora de a publicarmos, em honra de Manuel Maria Carrilho, dado que a
ele se deve, entre outras iniciativas no campo das artes, a criação do Centro
Português de Fotografia (1997), o primeiro instituto do Estado dedicado a uma
área que desde sempre o país menosprezou.
Sobre uma folha de papel que parece levitar, apenas a mão e a faca. Com este simples dispositivo, Fernando Lemos encenou magistralmente uma das mais intensas imagens
da história da fotografia em Portugal. E através da suspensão do gesto da mão que se
dirige à faca, sendo esta um instrumento que aqui substitui metaforicamente o lápis
ou o pincel, dá-se início a uma narrativa ficcional que o olhar do espectador, não
podendo fugir-lhe, concluirá.
[R]

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quarta-feira, maio 24, 2006

FIB



Do Butão, um reino tradicional budista situado nos Himalaias, surge-nos um conceito verdadeiramente vanguardista que actualmente tende a ser estudado nas sociedades
ocidentais: a Felicidade Interna Bruta ou FIB.
Um exemplo de como os centros podem aprender com as (ultra)periferias.

O rei Jigme Wangchuck, observando que os restantes "países em vias de
desenvolvimento" estavam todos centrados na preocupação com o crescimento
económico, no comércio e no Produto Interno Bruto (PIB), alienando muitas vezes
a cultura, a dignidade e a qualidade de vida, decidiu que as políticas do seu governo
deveriam contemplar também a felicidade dos cidadãos. Estabeleceu então quatro
pilares governativos: (1) a promoção do desenvolvimento socio-económico
equitativo e sustentável; (2) a preservação e promoção de valores culturais;
(3) a conservação do ambiente natural; (4) o estabelecimento de um bom governo
(começou por criar eleições livres).

Este é um trabalho em progresso que parte da interrogação de como as mudanças
do nosso tempo - o desenvolvimento da informática, a diminuição da diversidade
biológica e cultural e a rápida automatização social e económica - afectam as
perspectivas de felicidade. Por exemplo, como é que a par de uma maior rapidez
de comunicação através das tecnologias, se assiste ao isolamento/solidão cada vez
maior do indivíduo.
Facilmente se entenderá que o nosso típico indicador de bem-estar - a capacidade
de consumo - é limitado face àquilo que é tão inovador e simultâneamente tão
primitivo como isto: a procura da felicidade. No entanto isso reflecte a forma
simplista e desleixada com que as sociedades pós-industriais abordaram o tema.

Em 2004, uma conferência inicial sobre a FIB teve lugar no Butão. Esta conferência
foi seguida por outra, no Canadá, em Junho de 2005. Os participantes examinaram
as iniciativas bem sucedidas que no mundo inteiro tentam integrar o
desenvolvimento económico sustentável e equitativo com a conservação do meio
ambiente e a coesão social e cultural. O grande desafio da FIB é a exigência de um
modelo alternativo de desenvolvimento.
A grande linha estratégica: a cultura não é somente um factor indicativo de um
padrão de desenvolvimento; a cultura é a orientação crítica que move todo o padrão
de desenvolvimento colectivo.

Será mais difícil que subir os Himalaias?
[B]

Fotografia > Janie Regnerus (n. 1971)
> Moss, 2001 (Col. Galerie Anne Villepoix)

Integrando a exposição Mulheres - 26 Anos dos Encontros de Fotografia de Coimbra,
(Centro de Artes Visuais-CAV, Coimbra) esta fotografia da holandesa Janie Regnerus,
apresenta uma rapariga imóvel, com as pernas tintadas de verde musgo, no cenário
paradisíaco de uma floresta. Deste modo a autora propõe uma imagem enigmática que
questiona a solidão da vivência contemporânea face à natureza.
[R]

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segunda-feira, maio 22, 2006

MANUEL ZIMBRO





A partir do momento em que estamos atentos a tudo
andamos por um caminho naturalmente desconhecido,
à medida que caminhamos descobrimos tudo de novo
e de novo deixamos tudo para trás.
por onde quer que se vá,
dentro ou fora de casa, vai-se pela primeira vez
verdadeiramente à vontade.
diante disso não há palavras.
(...)
Tenho os pés assentes na terra e um torrão de terra na mão
olho-o ao sol,
o mundo antes de ser mundo, antes do rotundo arrefecimento,
antes da noite do dia possível
antes do caos,
antes de qualquer "antes do" - agora.

Manuel Zimbro
in Torrões de Terra - notas de um lavrador para encontrar o céu e a terra
(R)/(P)

> Manuel Zimbro (1944-2003)
Fotografia
> Rosa, 2000, da série O Mundo visto da terra, aqui à volta de casa
(ed. Porta 33/Assírio & Alvim, Funchal/Lisboa, 2004)
Pintura (guache) >
Da série Torrões de Terra (ed. Assírio & Alvim, Lisboa, s/d)

Pesquisar Manuel Zimbro:
http://www.fundacaocarmona.org.pt/FCCwebapp/artigo2.aspx?cat=224&subID=305
http://altura-maneira.blogspot.com/2005/06/sombra.html
http://oreivainu.weblog.com.pt/arquivo/179414.html
http://uniaobudistaporto.no.sapo.pt/textos_Hogen.htm
http://www.uniaobudista.pt
[R]

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domingo, maio 21, 2006

GRANDES MESTRES DO PEQUENO "MUSEU" DE GUSTAV RAU



Fra Angelico Taddeo di Bartolo Vittore Crivelli Bernardino Luini
Colyn de Coter Antonio Solario Lucas Cranach Jacob Strüb Guido Reni
Giovanni Battista Caracciolo Carlo Dolci Elisabetta Sirani Canaletto
Bellotto Giandomenico Tiepolo Frans Pourbus, o Jovem
Jan van Goyen
Hendrick Ter Brugghen Salomon van Ruisdael Frans Post Gerard Dou
Judith Leyster
Emmanuele de Witte Gerard Ter Borch Willem van Aelst
Jan Siberechts Anton Graff Jacques Linard Philippe de Champaigne
Jean-François Millet Nicolas de Largillière Jean-Baptiste Pater
Boucher Maurice-Quentin de La Tour Jean-Baptiste Greuze
Fragonard
Chevalier Volaire Hubert Robert El Greco Ribera Reynolds Vigée-Le Brun
Thomas Gainsborough Corot Gustave Courbet Boudin Frédéric Bazille
Cézanne Manet Degas Monet Renoir Camille Pissarro Alfred Sisley
Gustave Caillebotte Mary Cassatt Sorolla Max Liebermann Paul Signac Toulouse-Lautrec Odilon Redon Paul Sérusier Félix Vallotton

Edouard Vuillard Maurice Denis Albert Marquet Maurice de Vlaminck
Raoul Dufy
Kees van Dongen André Derain Alexej von Jawlensky
August Macke Emmanuele Mané-Katz Marie Laurencin Giorgio Morandi
Bonnard
[R]

Desdobravel da exposição > Grandes Mestres da Pintura: de Fra Angelico a
Bonnard -
Colecção Rau, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 18.5 a 17.8.2006
> com reprodução de pintura de
Bernardino Luini (c.1485-1532), Retrato de uma
jovem
(pormenor), 1525.
[R]

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quinta-feira, maio 18, 2006

MUSEUS



Todos os dias são dias de museus. Museus é sempre que um homem quiser. Mas hoje,
18 de Maio, o Museu Nacional de Arte Antiga vive um dia especial de festa com a
inauguração da exposição da Colecção Rau, Grandes Mestres da Pintura
Europeia - De Fra Angelico a Bonnard.
Em breve voltaremos a este tema. Para já vamos a caminho da inauguração e da festa
que se prolongarará nos jardins do museu até às 3 da madrugada. Até logo!

[Adenda 1 > 19.5.06]
> Uma ideia de cosmopolitismo
Esta madrugada, finda a inauguração da exposição da Colecção Rau, os jardins do
nosso principal museu nacional transformaram-se numa enorme discoteca ao ar
livre. Música urbana, efeitos de luzes nas copas das árvores, muita cerveja, gente
a dançar.
Assim se comemorava o Dia Internacional dos Museus, para escândalo de alguns
cuja ideia de "cultura" e de arte passa apenas pelos domínios da erudição e termina
no século XIX.
A heterogeneidade dos públicos, o cruzamento de épocas e expressões urbanas é
o caminho certo. Pelo menos por uma noite, pelo menos num lugar privilegiado,
Lisboa teve um cheirinho a cosmopolitismo.
[R]

[Adenda 2 > 19.5.06]
> A Noite dos Museus
Sábado, 20 de Maio, encerra com a Noite dos Museus um ciclo de eventos que esta
semana pretendeu conquistar novos
públicos e alargar os parcos hábitos de convívio
dos portugueses com o seu património museológico.
Baseada numa ideia francesa, à qual vêm aderindo museus de toda a Europa, a
iniciativa abrange
em Portugal inúmeros museus nacionais e municipais por todo o
país. Horário alargado até à 1 ou 2 da madrugada, com entradas gratuitas.
É só consultar o
Programa.
(R)

Fotografia > Fratelli Alinari, Florença
> Furia addormentata, ed. Alinari, Firenze, c. 1900
(foto © FH/CRO)
(> Fragmento de escultura, Museo Nazionale Romano, Roma)
[R]

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quarta-feira, maio 17, 2006

E AO QUARTO MÊS...



Ao quarto mês do Ultraperiférico, que hoje assinalamos, os quatro (4) autores que
são a rapaziada deste blogue
têm a honra e o prazer de anunciar que convidaram
quatro (4) translumbrantes
moças, para integrar a nossa equipa como colaboradoras
residentes
: BaLa, Bolota, Espiral e Dona Urraca.



Convite feito, convite aceite. Pretendemos assim mostrar ao mundo, ultraperiferia
incluída, um exemplo estimulante da paridade
democrática entre sexos. Nem podia
ser de outro modo, homens e mulheres a blogar em paridade total!
Em breve saberemos o que estas moças iluminadas têm a dizer, quais os seus
contributos para que coloquemos
finalmente Portugal no mapa da civilização.
Sem elas, sabêmo-lo bem, nós nunca iríamos conseguir.

Agora é que a festa vai começar!
[P]/[R]/[K]/[H]

Por feliz coincidência a BaLa faz anos hoje. Quatro vezes parabéns da rapaziada!


Fotografia 1 > Photographie Française, Lisboa
> Retrato múltiplo de um rapazinho, Lisboa, 1908
(foto © FH/CRO)

Fotografia 2 > Photo-Salon Furtado & Reis, Lisboa
> Quatro raparigas a dançar em traje minhoto, Lisboa, c. 1910
(foto © FH/CRO)

Duas fotografias de dois estúdios lisboetas, ambos com intensa actividade nas
primeiras décadas do séc. XX.
No primeiro caso, a Photographie Française,
cujo nome em francês pretendia
demonstrar,
tal como o faziam outros estúdios comerciais, o chic da sua localização
na Baixa da cidade (R. Arco do Bandeira, Lisbonne) e o esmerado serviço que
prestava. Este retrato
de estúdio, múltiplo, obtido por fotomontagem a partir
de quatro negativos,
é datado de 1908, apresentando uma sequência de imagens
que decerto foi influenciada pela novidade do cinema. De notar que na mesma rua
do estúdio se inaugurara em 1907 o "Animatógrafo do Rossio", com a sua bela
fachada "art nouveau", a qual ainda se mantém preservada mas dando hoje acesso
a uma sex shop que ocupa o interior da antiga sala de cinema.
Na R. de Santa Justa, perpendicular à R. do Arco do Bandeira, localizava-se também

o Photo-Salon Furtado & Reis, outro estúdio que também apresenta no nome
o tal estrangeirismo definidor de prestígio.
Nesta segunda fotografia, um retrato de grupo realizado ao ar livre, vemos quatro
raparigas em poses de dança encenadas para a fotografia. A parede de trepadeiras
recorda vagamente um conveniente "cenário"campestre. As raparigas,
orgulhosas
no seu vistoso traje tradicional, eram
talvez descendentes de gente do Minho, ou
então meninas da capital que aderiram à moda de se fazer retratar
em traje minhoto.
Este hábito, frequente a partir da década de 1880, prolongou-se
até meados do
século XX. O traje minhoto tornar-se-ia um dos principais
ícones da cultura popular
portuguesa, devendo
em grande parte esse estatuto à fotografia de costumes.
[R]

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segunda-feira, maio 15, 2006

JOSÉ GIL, FILÓSOFO E POETA
- Um poema filosófico em forma de K

__________

Lusco-Fusco

“Rien n’est beau que le vrai, le vrai seul est aimable”
Boileau

Duelo epistolar ao lusco – fusco
À flor do esquecimento do ser
No limbo do fim da história
Em glória e esplendor nos
Decassílabos justos para a
Construção do pequeno
Templo. Só a loucura
É desprovida da palavra
Do ser esquecido nas vozes
Do deserto, no medo divino da
Fuga diária do planalto do poema
Quem quer ficar vazio sem o lusco
Fusco na sua tenaz marca poética da
Trópologica até que uma nova palavra
Entre nas ideias claras para o diamante da voz
Na sordidez do matagal da pedra azul para estilhaçar
A cortina da habitação do dia a dia. a manhã virá logo
José Gil


Poema > José Gil (n. 1939)
> Lusco-Fusco, 2005, in Diálogos do Gil (dialogosdogil.blogspot.com)

> Pesquisar José Gil
http://macua.blogs.com/25_de_abril_o_antes_e_o_a/2005/02/entrevista_jos_.html
http://www.livrarialeitura.pt/home.ud121?oid=555518&from_zone=Top+Leitura
http://www1.folha.uol.com.br/folha/eventos/palestra_jgil_20000419.htm
http://memoriavirtual.weblog.com.pt/arquivo/059729.html
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3726
http://www.econac.net/Entrevista39.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Gil
(R)

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sábado, maio 13, 2006

VÍTOR PALLA (1922-2006)





Vítor Palla, recentemente falecido (28 de Abril) e Manuel Costa Martins (1922-1996),
ambos arquitectos-fotógrafos, criaram na década de 1950 o livro Lisboa, cidade
triste e alegre, um dos mais deslumbrantes projectos da história da fotografia em
Portugal.

Mas as vicissitudes por que passou este livro fotográfico são também um exemplo
flagrante da tradicional resistência portuguesa à modernidade. Reconhecida hoje
internacionalmente como uma criação de referência do pós-guerra no campo da
fotografia, esta obra foi declarada pela Biblioteca Nacional de Paris como um dos
livros esquecidos do milénio e descrita pelo The Photobook: A History (2004), de
Martin Parr e Gerry Badger, deste modo:
«Of the many postwar photobooks on European cities, this is one of the best, and
its neglect at the time it was published is regrettable. Made by Victor Palla and
Costa Martins, both architects, "Lisboa" is amongst the most complex of modern
photobooks, in form and content».
Vale a pena, em traços largos, relatar uma parte da história deste livro práticamente
ignorado em Portugal, e consequentemente no mundo, entre 1959 e 1982, isto é,
entre a data da sua publicação em fascículos, com edição dos autores (1959), e o ano
da sua redescoberta por António Sena, da qual resultou a exposição Lisboa e Tejo e
Tudo, na Galeria Ether (1982):

«A reacção do público foi, em geral, de repulsa e indiferença. A observação de que
eram fotografias "escuras" ou "tremidas" e expostas ou publicadas "a metro", foi
frequente. O livro foi um fracasso editorial. O esquecimento foi quase imediato.
Para se ter uma ideia do desinteresse, em 1982, uma quantidade apreciável de
fascículos que tinham sobrado do livro, consistindo em mais de metade da edição,
estavam numa cozinha da Associação Portugal-Cuba e nem a Biblioteca Nacional
nem as bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa ou da Gulbenkian possuíam
qualquer exemplar».
> António Sena,
in História da Imagem Fotográfica em Portugal, 1839-1997
(Porto Editora, 1998)
[R]

Livro fotográfico > Vítor Palla e Costa Martins
> Lisboa cidade triste e alegre, Lisboa, 1959 (páginas iniciais do livro + páginas soltas
originais, com impressão posterior de texto, utilizadas para divulgação da exposição
"Lisboa e Tejo e Tudo", Ether, 1982), (foto © FH/CRO)

> Pesquisar Vítor Palla/Costa Martins
http://imagensdacidade.blogspot.com
http://belittlepilgrim.livejournal.com/?skip=1
https://www.phaidon.com/phaidon/displayproduct.asp?id=2012
http://dn.sapo.pt/2006/04/30/artes/victor_palla_despedese_cidade_fotogr.html
http://fugaparaavitoria.blogspot.com/2006/04/victor-palla-todo-o-mundo-1922-2006.html
http://www.biblarte.gulbenkian.pt/content.asp?cod=destaque15&menu=home&parent

[R]

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quarta-feira, maio 10, 2006

PAUSA



Pausa forçada no Ultraperiférico, que esperamos seja breve. Vá lá, querido Agá,
põe-te bom depressa!
[R]/[P]/[K]

Fotografia > José M. Rodrigues (n. 1951)
> Da série "Jardim de Cristal", Porto, 2001
(foto © FH/CRO)
[R]

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domingo, maio 07, 2006

[citação 03]
AS MÃES



"As mães são as mais altas coisas que os filhos criam"
> Herberto Helder (n. 1930)
[P]

Fotografia > Lehnert & Landrock (Tunísia)
> Bédouine, Tunis, c. 1910
(foto © FH/CRO)

Dois fotógrafos europeus, o alemão Rudolf Lehnert (1878-1948) e o austríaco
Ernst Landrock
(1878-1966), instalaram-se na cidade de Tunis entre 1904 e
1914,
aí criando uma das maiores empresas de produção e comercialização de
imagens do Norte de África, incluindo edições postais em rotogravura.
Percorreram os países do Magreb, seduzidos pelo imaginário orientalista e pelos
povos e costumes
do deserto do Sahara, fixando-se depois da Grande Guerra, no
Egipto, cidade do Cairo.

Esta Bédouine com o seu filho, é uma proposta fotográfica pictorializante claramente
inspirada na iconografia da "Virgem com o Menino", cruzando as tradições cristã
e islâmica com uma naturalidade desarmante, que nos remete para um tempo em
que as diferenças civilizacionais não pareciam constituir uma ameaça.
[R]

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quinta-feira, maio 04, 2006

POR FALAR EM FASCISMO...



No rescaldo das comemorações do 25 de Abril, Carlos Guimarães Pinto, no blogue Licenciosidades, intitulou Vamos lá ver se é desta que me chamam fascista,
um artigo sobre o crescimento da economia portuguesa nos últimos dez anos da
ditadura, concluindo que "Salazar e o seu regime podem ser acusados de ofender
muitas liberdades individuais e económicas, mas do que não podem ser acusados
é de serem causadores do nosso atraso. Até me atrevo a dizer que sem o suporte
da herança da prosperidade do Estado Novo, dificilmente o regime democrático
saído do 25 de Abril se teria aguentado".

A propósito do atraso do país e das políticas económicas do salazarismo, sobretudo o
crescimento do PIB na década anterior ao 25 de Abril, convém lembrar que só uma
leitura sistémica dos factos pode esclarecer-nos, conjugando diferentes variáveis.
Este é o ponto de partida para uma análise correcta, sob pena de fazermos certas
interpretações à medida de convicções pessoais.
Para se compreender o crescimento, que não o desenvolvimento, da economia
portuguesa nos anos 60, é desde logo indispensável ter em conta que se vivia numa
sociedade fechada e proteccionista, que impôs inclusivamente a célebre lei do
condicionamento industrial, limitadora da concorrência e, portanto, da inovação.
As colónias portuguesas possibilitaram a criação de novos mercados. As remessas
dos emigrantes e a crescente importância do turismo, possibilitaram a realização
de obras públicas. O resto dos recursos alimentavam o esforço de guerra que o país
manteve até Abril de 1974, quando os outros países já tinham efectuado a sua
descolonização. O crescimento fez-se com pessoas que não podiam reclamar os seus
direitos quanto a salários ou outras condições de trabalho. Era a época em que
Portugal concorria com os seus produtos tradicionais, a partir de baixos salários e
com uma mão-de-obra pouco ou nada qualificada.
Basta ver o exemplo da China ou da Índia, que são actualmente das economias
com maiores taxas de crescimento a nível mundial, sem que exista um
desenvolvimento sustentado com reflexos na qualidade de vida das populações.

A direcção do país era unipessoal. As últimas gerações de portugueses cresceram
com medo de aprender, de debater, de afirmar a diferença, de inovar. Cresceram na
reverência a quem lhes podia conceder direitos. Isso gerou temor e submissão e uma
revolta contida. Por alguma razão, em 1927, num debate parlamentar, alguém que
se opunha à generalização da escolaridade básica a toda a população, afirmava que
"a parte mais nobre e mais saudável da alma portuguesa, são os 70 % de
analfabetos", que então existiam. É bom lembrar, sem ironia, que naquela época,
o PIB cresceu com estes analfabetos tal como cresce na Índia ou na China.
Ainda assim, as gerações anteriores a 1974 legaram-nos nos uma história, a dignidade
de sermos portugueses, possibilitando debates, escolhas e a melhoria da generalidade
dos indicadores económicos e sociais, como recentemente analisou António Barreto
numa compilação de dados estatísticos.
Trabalhemos então para que "a parte mais nobre e mais saudável da alma portuguesa"
seja cada vez mais um povo culto e participativo que se orgulhe da sua identidade e
da sua história, mesmo quando esta conheceu momentos colectivos mais sombrios.
(K)

Fotografia > Anónimo
> Operário, déc. 1920?, EUA? (foto © FH/CRO)

Esta fotografia anónima e sem qualquer referência a local e data, sugere-nos de
algum modo
o documentalismo social da fotografia americana. Através do vestuário
e do ambiente mecanizado, lembra
também a célebre imagem de Lewis Hine,
Powerhouse Mechanic (1920), um dos maiores ícones
de sempre da fotografia do
trabalho. No entanto, esse vigoroso trabalhador americano captado por Hine em
plena acção,
diferencia-se do nosso esgotado Operário, cuja figura elegante e
submissa aparenta
resultar de uma encenação fotográfica.
(R)

quarta-feira, maio 03, 2006

FERNANDO LEMOS E O SURREALISMO



Uma boa notícia para quem ainda não viu Fernando Lemos e o Surrealismo no
Sintra Museu de Arte Moderna/Colecção Berardo: a exposição foi prolongada até
28 de Maio.

> Fernando Lemos, in Refotos - Anos 40 (1982)
"Nasci na Rua do Sol ao Rato em Lisboa, em 1926. Fui para o Brasil em 1952. Fui
estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador,
publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado,
director de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de
concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais,
cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias, uma que me fez e outra que
ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor".
[R]

(Adenda) Recentemente adquirido pela Colecção Berardo, o importante corpus
fotográfico de Fernando Lemos, que agora se mostra, é acompanhado por obras de
outros surrealistas portugueses, as quais pertencem maioritariamente à Fundação
Cupertino de Miranda
(Famalicão), e também por obras de importantes artistas
internacionais, da Colecção Berardo.
E é aqui que reside a novidade e a ousadia da exposição, o facto de nos surgirem
lado a lado com as fotografias de Fernando Lemos, obras de artistas como Magritte,
Delvaux, Dali, Max Ernst, Miró, Picasso, Man Ray, Duchamps, Chirico, entre outros.
[R]

Fotografia > Fernando Lemos (n. 1926)
> Autoretrato, 1949/52, Colecção Berardo


A obra fotográfica de Fernando Lemos, integralmente realizada no breve período
de 1949 a 1952, sendo o artista então muito jovem, viria a revelar-se um ponto de
referência do surrealismo em Portugal.
O Autoretrato e outras fotografias foram mostradas pela primeira vez, juntamente

com obras de pintura e desenho, na mítica exposição Azevedo, Lemos, Vespeira, na
Casa Jalco (1952). Pela sua ousadia, esta exposição causou grande polémica na
provinciana Lisboa de então.
Entretanto Fernando Lemos partiu para o Brasil em 1953, fixando depois residência
na cidade de São Paulo, onde continua a sua actividade artística como pintor.
[R]

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segunda-feira, maio 01, 2006

RICAS MENINAS



Duas, oferecem-se a Afonso Bivar, para que regresse. Vá lá, Afonso, reconsidere!

Não era este o post previsto para hoje. Como se diz, uma desgraça nunca vem só:
Já bastava o desaparecimento súbito da coluna lateral do Ultraperiférico (ah, este
Blogger anda a falhar...), o que me obrigou horas a fio a tentar reconstituir os links
no template, ainda por cima recebo a triste notícia do fim de um dos meus blogues
preferidos. A blogosfera não vos parece amaldiçoada?
[R]

[Adenda > 2.5.06]
Graças aos acidentes do Blogger, celebrei o Dia do Trabalhador numa azáfama, a
refazer integralmente os links perdidos do sidebar. Agora só faltam os dados do
Statcounter e dos Refering Links.
[R]

[Adenda > 7.5.06]
Bombyx Mori definitivamente fora do mapa. Mas Afonso Bivar reconsiderou e
está "doravante a alienar" no Lugar Comum, com Susana Bês, Lutz Brückelmann e
Luis M. Jorge.
[R]

[Adenda > 8.5.06]
Afinal o Bombyx Mori não está definitivamente fora do mapa!

Fotografia > E. Agelou (França)
> Sem título (estereoscopia), França, c.1900 (foto © FH/CRO)


A fotografia estereoscópica, baseada nos princípios da visão binocular, acompanhou
a evolução dos processos fotográficos até se tornar uma verdadeira moda na última
década do séc. XIX e na primeira década do séc. XX. Ao colocar uma dupla prova
fotográfica num visor adequado o observador era surpreendido pelo efeito de
profundidade decorrente do fenómeno da fusão óptica, à semelhança daquilo que
os nossos olhos vêm normalmente.
Alguns fotoeditores fizeram fortuna com produções estereoscópicas eróticas que
deslumbravam os voyeures das classes abastadas. O fotógrafo francês E. Jean
Agelou, com actividade conhecida na década de 1900, praticou este género de
fotografia comercial, captando os seus nús em poses descontraídas, e em espaços
cenográficos sobrecarregados que pretendiam reconstituir ambientes sofisticados.
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