domingo, maio 28, 2006

MANUEL MARIA CARRILHO VS MEDIA



Será que o livro Sob o signo da verdade tem sido suficientemente analisado no
que diz respeito ao estado do jornalismo e dos media em Portugal?
Muitas intervenções e textos de opinião sobre este caso, tanto nos media como na
blogosfera, limitam-se a desancar de alto a baixo a figura controversa de Manuel
Maria Carrilho. Porém, não se lhe pode negar a capacidade, talvez a coragem, de
pôr o dedo na ferida, num país em que a resignação e a maledicência se substituem
aos debates incómodos.
Associamo-nos assim, a todos aqueles que nesta polémica estão contra a corrente,
aos que não desprezam as capacidades intelectuais e políticas de Carrilho e aos que
não esqueceram a sua actuação inovadora enquanto Ministro da Cultura.
Fazemos questão de participar no debate, actualizando sucessivamente este post.
Esperamos contribuir deste modo para que o caso Carrilho vs. Media não seja
rápidamente abafado, como tantas vezes tem acontecido com outras questões
essenciais na sociedade portuguesa.

Este domingo, 28 de Maio, constatámos um saudável contributo para a discussão no
site do Clube de Jornalistas, que traz em "1ª Página" um conjunto de links sobre
a polémica, apresentando ainda o Prefácio do livro de Manuel Maria Carrilho.
Por sua vez, o blogue Lisbonlab, de Hugo Neves da Silva, reúne os links referentes
à onda de posts que assolou a blogosfera na sequência do debate televisivo Prós &
Contras (RTP, 23 de Maio). Entre os blogues que marcaram a diferença, salientamos
o Insónia e o Xatoo (v. Ligações no final do texto)

Para já, aqui fica o texto de Paulo Varela Gomes, em carta ao director do jornal
Público (via Xatoo, 23 de Maio)
“Sobre Carrilho, duas coisinhas que se arriscam a ficar esquecidas no meio da
confusão: foi o melhor ministro da Cultura que o país teve desde o 25 de Abril e,
se tivesse sido eleito para a Câmara de Lisboa, teria sido, muito possivelmente, a personalidade de que a cidade desesperadamente precisa desde Duarte Pacheco
nos anos de 1940.
O problema de Carrilho é que não percebeu que os politicos não podem ser
“famosos” como são os outros “famosos”, jogadores de futebol, actores e actrizes, apresentadores de televisão, “famosos” profissionais. A todos estes, os media
pedem a exibição da vida familiar e de alguns pecadilhos. Todos estes podem dar
facadas nos casamentos e noivados, apanhar bebedeiras, descobrir o corpo à
beira de piscinas, vender os direitos sobre fotografias, etc. Sem isso não teriam
interesse mediático.
Mas os politicos não. Os politicos da era da televisão e da democracia de massas
têm de parecer humanos mas não podem verdadeiramente sê-lo. Devem ter e
exibir discretamente uma vida familiar, sim, mas apenas de dois tipos: ou a do
avozinho simpático tipo Cavaco Silva ou a do robot sem verdadeira vida familiar
como Blair ou Sócrates. Devem mostrar sentimentos, mas apenas os mais banais
e com o maior “sentido de Estado”. Ai deles se dão a mais pequena escorregadela.
Se aparentam ter qualquer afecto pronunciado. Se alteram a voz. Se se ofendem.
Os media dão cabo deles sem nenhuns escrúpulos. E depois vêm queixar-se (todos
contentes) de que os politicos que temos não valem nada e não têm nenhum
interesse humano.
Carrilho devia ter percebido isto? Não sei porque é que devia. Tão pouca gente
percebe”.
(R)

Ligações em actualização:
ALMOCREVE DAS PETAS (Masson) O jornalismo segundo "os próprios" ou o caso Carrilho
Aforismos do sr. Karl Kraus... dedicados a senhores prudentes
O AMIGO DO POVO (Fernando Martins) Carrilho escreveu um livro...
ASPIRINA B (Luis Rainha) Sob o signo da incubadora (2)
AUTO-RETRATO (Sérgio Lavos) O confronto
ESPLANAR (Carlos Leone) Para que serve (até agora) a polémica da hora
ESTADO CIVIL (António Guerreiro) Carrilho e o seu duplo
INSÓNIA (Henrique Fialho)
Tadinhos Para que serve (até agora) a polémica da hora
Paranormal Vendo, lendo, ouvindo Prós & Contras Um livro corajoso
KAOS Um polvo de mãos invisíveis
A MEMÓRIA INVENTADA (Vasco M. Barreto)
Vaidade, inveja, vacuidade (20 Maio)
PLANALTOS (Jorge P. Pires) Tiros com silenciador
XATOO O "arrastão" Carrilho Frases soltas O arrastão Carrilho, parte II
[R]

Fotografia > Fernando Lemos (n. 1926)
> A mão e a faca, 1949/52 (Colecção Berardo)

Por ser uma das nossas preferidas, esta fotografia de Fernando Lemos foi mantida
em reserva no arquivo digital do Ultraperiférico, aguardando um tema marcante.
Chegou a hora de a publicarmos, em honra de Manuel Maria Carrilho, dado que a
ele se deve, entre outras iniciativas no campo das artes, a criação do Centro
Português de Fotografia (1997), o primeiro instituto do Estado dedicado a uma
área que desde sempre o país menosprezou.
Sobre uma folha de papel que parece levitar, apenas a mão e a faca. Com este simples dispositivo, Fernando Lemos encenou magistralmente uma das mais intensas imagens
da história da fotografia em Portugal. E através da suspensão do gesto da mão que se
dirige à faca, sendo esta um instrumento que aqui substitui metaforicamente o lápis
ou o pincel, dá-se início a uma narrativa ficcional que o olhar do espectador, não
podendo fugir-lhe, concluirá.
[R]

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15 Comentários:

Blogger bettips escreveu...

Mas que bom, ter estes amigos nos Fav e eles serem lúcidos. Ainda não tinha lido/ouvido nada assim.
Que é o que penso. Considero que os portugueses não se dão bem com este tipo de pessoas. Preferem o nédiozinho, médiozinho.E o que atira a pedra e esconde a mão. A bem das aparências. Parece mal "parecer" estar acima das tricas da Caras e Vips. Não lhe perdoam o profile, então não é que era giro depenicar-lhe a vida? e saber onde compra o fato e a marca do carro? E se sai à noite, com quem e onde? Muito mais diria ... mas é lamentável que seja uma arena romana, em vez dum debate sobre A Comunicação Social, seus efeitos e defeitos. Deus me livre de mexer na liberdade dos snrs. jornalistas, podem lançar a poeira que quiserem que amanhã põem um desmentido na página mais cinzenta. Ou deixam esquecer que ninguém lhes pergunta. Lembro que o fogo fátuo foi ateado por um aperto de mão negado e filmado.O chamado fait divers que tantas vezes faz manchete! Ora quantos de nós apertariam a mão do bandalho que se ri e nos goza? Eu não, não dou a outra face... Dizia baixinho que #..%&#
e virava as costas!

29 maio, 2006 02:49  
Anonymous Anónimo escreveu...

Vejo que Bettips concluiu a narrativa de Fernando Lemos, associando a mão e a faca ao fatídico aperto de mão que Carrilho negou. É bem visto.
Os actos espontâneos de dignidade são socialmente punidos em Portugal, quase sempre se prefere a mais conveniente das hipocrisias.

29 maio, 2006 03:28  
Anonymous Anónimo escreveu...

Posso entrar? Com licença.
Antes de mais quero saudar os bloggers e visitantes do Ultra, coisa que ainda não tinha feito desde o anúncio da minha "residência" no blog.
E depois quero dizer que tanta unanimidade e entusiasmo à volta da ideia de que o MMC não passa de uma personagem execrável e arrogante, dedicado a difamar os pobres jornalistas, está a provocar-me já fortes enjoos.
Chega a ser de coragem defender a opinião contrária ou sequer questionar a transparência e ética da prática jornalística em Portugal.
Em terceiro lugar, quero citar, à semelhança do que fez o meu amigo JOPP no seu Planaltos, o velho Arthur Schopenhauer,no seu livro " A Arte de Ter Sempre Razão", que o próprio JOPP traduziu para a Frenesi:"Aquilo a que se chama opinião geral é, quando se vê bem, a opinião de duas ou três pessoas; e disso nos convenceríamos se víssemos como nasce tal opinião generalizada. Veríamos então que primeiramente foram duas ou três pessoas que a admitiram e que houve a benevolência de se acreditar que elas a ahviam examinado a fundo; supondo suficiente a competência dos primeiros, alguns outros adoptaram igualmente essa opinião; nestes, por sua vez, confiaram muitos outros, cuja indolência incita a antes acreditarem nas coisas do que darem-se à pena de as examinarem. Assim cresceu de dia para dia o número desses adeptos indolentes e crédulos: pois logo que a opinião tenha por si um bom número de votos, os seguintes pensam que ela não poderia havê-los obtido senão graça à justeza dos seus fundamentos. Os restantes foram então constrangidos a reconhecerem o que era comumente admitido, para não serem considerados uns espíritos inquietos que resistem às opiniões universalmente admitidas, ou uns impertinentes que se crêem mais espertos que toda a gente. Aderiri torna-se então um dever. A partir daí o pequeno número dos que são capazes de ajuizar cala-se; e os que têm direito a falar são os absolutamente incapazes de forjarem uma opinião ou um juízo por si mesmos, os que apenas ecoam as opiniões de outrem; defendem-se porém com o maior zelo e intolerância. Pois o que detestam em quem pensa de outro modo, não é tanto a opinião diferente que professa, mas o atrevimento de querer ajuizar por si mesmo; coisa que eles próprios, evidentemente, jamais fazem, e da qual têm íntima consciência."
Agora vejam como é perigoso quando se mascara a opinião de notícia ou de facto jornalístico.
Ora bolotas!!!

29 maio, 2006 18:55  
Blogger armandina maia escreveu...

Acho que a imagem da faca e da mão, de Fernando Lemos, está supremamente escolhida para esta questão.
Sobre o Professor Manuel Maria Carrilho, teria sido bom para ele prosseguir a carreira universitária. Sei no entanto, por o conhecer razoavelmente de ambientes internos de trabalho, da sua imensa vaidade, de resto bem patente em cada fotografia que nos dá a ver. Como Ministro da Cultura, concordo que Carrilho sabia do que falava, mas falta conhecer um dado importante: quanto custou ao país, em esbanjamento e ostentação, todo o "aparato" que Carrilho montou à sua volta, com imensos jornalistas e fotógrafos, que o seguiam como moscas, pagos por uma rubrica do M.C. que, até hoje, não consegui vislumbrar onde "cabe".
Do mesmo modo, me desgostou ver Carrilho descer ao nível da brejeirice, em comentários aos seus adversários, quando escrevia no expresso. Num deles dizia que o Morais Sarmento não estava (???) porque, se calhar, tinha ido abastecer-se (acho que era mais pesado) ao Casal Ventoso.

Não é importante o que se diz, quando ninguém nos ouve. Mas, quando subimos ao palco, a factura é a presentada a todos, o que dissémos, o que não dissémos. Ninguém escapa.
Carrilho Não foi exactamente bemtratado, mas foi certamente mal-amado. O livro é corajoso? Não sei, sei que lhe traz protagonismo e até lucro financeiro e acho que ele não se importa nada com isso.
Quanto ao mau jornalismo, o que faz mesmo MAL às pessoas, temos tido exemplos bem tristes em Portugal...Basta pensar nos crimes de pedofilia em que se amarfanharam princípios deontológicos como se fosse uma folha de papel de rascunho...
Como já devem ter percebido, acho que o país sobrevive melhor à perda de Carrilho do que à perda de qualidade e deontologia profissional dos media. (comentário "postado no insónia", mas originalmente feito a pedido do Ultraperiférico.

armandina maia

29 maio, 2006 19:55  
Anonymous Anónimo escreveu...

Concordo com Bolota, a quem felicito pela chegada ao Ultraperiferico.

Quanto a MAM, acho o comentário muito interessante, mas discordo. Em primeiro lugar, sou de opinião que devemos sempre separar a pessoa da obra. Pouco me importa que Carrilho seja mal-educado ou vaidoso ou arrogante. Importa-me sim, que ele tenha feito obra na Cultura, e que ele pudesse ter feito obra na Câmara de Lisboa, se os media e os potentados económicos que os sustentam, não tivessem decidido que seria Carmona o Presidente.
Se quisermos reflectir sobre facetas de personalidade de políticos, podemos sempre debruçar-nos sobre Carmona ou Cavaco, por exemplo, e teremos com que nos entreter.
Quanto aos ambientes "de luxe et volupté", ostentação, esbanjamento e aparato, não vejo porque insistir em Carrilho, tendo em conta os exemplos a que os nossos políticos nos têem habituado.
Inquestionável é que o livro de Carrilho toca na intocável comunicação social do burgo, como inquestionável é que tudo isto será rapidamente silenciado, porque é preciso que fique tudo como está. Estão a entreter-nos com as características pessoais do homem, com o objectivo de omitir a sua obra e a sua inteligência, e o fulcro da questão que o livro levanta. Como sempre acontece com os temas cruciais que sublinham e perpetuam a nossa ultraperiferia.
"Sans rancune", MAM, sei que a tua opinião é fundamentada e que a tua intenção e atitude são, como sempre, a frontalidade.

30 maio, 2006 00:36  
Blogger armandina maia escreveu...

Caro propranolol,

Tenho que confessar que estes picos de euforia e disforia em torno de uma única pessoa, sem levar mais longe a discussão, me parece bastante restritivo, dado que, como bem sabemos, o "fenómeno" dos assassinatos vem de longe e vai por bom caminho. Conheço umas dezenas de pessoas que, tal como o ex-minisro Carrilho, deram o que de melhor os seus crâneos produziram, a imaginação, o "commitement" total, o viver por um reles ordenado como se de uma causa se tratasse (aqui bem longe do exemplo do ex) e, por manobras que só a verdadeira canalha pode realizar, foram deslocadas, re-enviadas para os seus lugares de "origem", perdendo-se um manancial de conhecimento, inteligência e dedicação como se fossem peças descartáveis.
Acho que anda por aí a mão de quem viveu na pele este drama, e, deste lado, digamos que nunca mais ninguém se atreve a acreditar no poder.
è por saber muito sobre mecanismos muito perversos, comunicação incluída, que prefiro não emitir mais opiniões sobre o assunto. SE não, teria mesmo que escrever um livro que, evidentemente, se iria perder no anonimato dos milhares que assaltam as livrarias.

armandina maia

30 maio, 2006 03:11  
Anonymous Anónimo escreveu...

Obrigado, Armandina, pelos testemunhos e pelo importante contributo que trazes ao debate.

É certo que centrar as questões "em torno de uma única pessoa" pode tornar-se restritivo. No entanto, creio que a reacção generalizada a este caso é paradigmática de mentalidades e comportamentos obscuros. Não tínhamos intensão de discutir a personalidade contraditória de Carrilho, mas antes o significado das denúncias contidas no seu livro e as ondas de choque que estas provocaram.
A questão central, a da manipulação dos media, tem que ser discutida a sério. Ainda há pouco assistimos a uma nova campanha eleitoral em que o descaramento atingiu níveis preocupantes.
Quem senão Carrilho arriscaria tão alto?

30 maio, 2006 05:00  
Anonymous Anónimo escreveu...

Tens aqui um otimo blog, os meus parabens :)
Bjo

30 maio, 2006 13:23  
Blogger João Dias escreveu...

Roteia:
Já tiveste a oportunidade de saber o que penso sobre este tema, mas nunca é demais repetir. Tenho imensa pena que o debate não tenha levado o "rumo certo" que seria, em meu entender, a discussão pública da comunicação social como "empresa de sabonetes".
No entanto não quis negar alguns vicíos da personalidade Carrilho, lá está, aquilo que ele fez pela cultura não é escamoteado pela sua personalidade, é precisamente por isso que falo na sua personalidade e na necessidade de dissociar as duas vertentes.
Nem como autarca digo que ele fosse mau, não digo isto porque ache que ele fosse bom mas porque a qualidade vigente é ainda pior (então em Aveiro é de pôr um ateu a bradar aos céus).

Assim sendo estou entre aqueles que admiram Carrilho e os que o desprezam, não sou politicamente afecto a ele mas quero reconhecer o mérito de trazer a debate esta questão.
No entanto as questões esseciais não foram levantadas e essas estão ligadas à pluralidade, e essas não tocaram tanto Carrilho. Não tocaram Carrilho porque na comunicação social os debates são maioritariamente representativos de uma visão de direita (às vezes do próprio PS).
A questão é bem simples:
Como é que à esquerda do PS (Bloco e PCP) têm somados 15% de "legitimação democrática" e o CDS tem 5% e compare-se o tempo de antena que tem uns e outros?
Porque raio é que nos Prós e Contras havia somente "Prós-neoliberais"?
É isso que interessa em nome da pluralidade e sobre essa questão Carrilho nada disse em público.

30 maio, 2006 18:02  
Anonymous Anónimo escreveu...

João Dias
Não creio que existam mecanismos perfeitos no que toca à pluralidade, em lado nenhum, em nenhum sistema político. Cada orgão de informação possui os seus critérios editoriais e tem esse direito (e dever), até porque os diferentes orgãos e os seus jornalistas individualmente considerados, possuem diferentes posicionamentos políticos. Diferentes questões são a manipulação e o abuso das regras deontológicas.

30 maio, 2006 18:59  
Blogger João Dias escreveu...

Roteia:
O Prós e Contras é um programa de uma estação televisiva pública, assim sendo devia-se exigir a democraticidade que se preconiza.
Além disso não se pede perfeição, isso é uma miragem, pede-se o minímo de isenção e a isenção está de forma brutal ligada à pluralidade.
A manipulação está também associada à falta de pluralismo, caso simples:
na altura da invasão ao Iraque ouviste de forma constante a opinação favorável à mesma. Sendo que os protagonistas foram escolhidos a dedo por terem já essa formatação de opinião.
Quando dizes que os diferentes orgãos têm diferentes posicionamentos políticos estás a levar para um plano do aleatório a isenção, estás a assumir essa não isenção. Além disso não conheço muitos orgãos de comunicação geridos por simpatizantes do PCP ou do Bloco, por isso até essa aleatória compensação de parcialidade jornalística cai por terra.
Parece-me que nesta questão estou a querer ir mais longe do que tu?
Quero mais consequências, quero mais democracia...

30 maio, 2006 19:23  
Anonymous Anónimo escreveu...

Nenhuma experiência de pluralismo informativo se obteve até hoje pela intervenção reguladora do Estado, em parte nenhuma deste nosso imperfeito mundo. Nem em países dominados pela Direita, nem pela Esquerda. Não se trata de conformismo, mas de constatarmos que as regras democráticas se cumprem nos órgãos do Estado democráticamente eleitos, não se cumprem por decreto nos orgãos de comunicação social, porque estes são empresas sujeitas às regras da concorrência, incluindo a televisão estatal.
Concordo que falta em Portugal debate de ideias, questionamento, hábitos de cidadania. Mas isso só se consegue pelo associativismo. Ou criando alternativas de debate fora dos circuitos dominados pelo poder económico (sem sabonetes), que é isso mesmo que estamos aqui a fazer, ou não é?

30 maio, 2006 21:56  
Blogger João Dias escreveu...

Roteia:
Já existe intervenção reguladora, chama-se como bem sabes Entidade Reguladora para a Comunicação Social, ora ela existe porque apesar da lógica de mercado tem de haver regras. Ora também sabes que sou contra a censura (é claro que existem casos de devassa da vida privada que não devem ser tolerados), logo cabe à entidade reguladora lutar no sentido contrário à censura. A censura que se assiste na imprensa é a de um projecto alternativo ao vigente que não seja mais à direita, assim sendo é legítimo que se lute nesse mesmo sentido.
Além disso não esperava esse argumento da tua parte, o da lógica de mercado, vindo de ti que sabes que a cultura é uma das vitímas dessa lógica. Como calculas, assim como acho que a cultura não deve ser vitima de lógicas mercantilistas também acho que a pluralidade, que é condição essencial da democracia, também não deve estar.
Aliás se não existir pluralidade nos meios de comunicação para que servem os mesmos, e mais, para que serve a democracia? Existem visões divergentes de como gerir os vários sectores da vida pública, é nessa base que a democracia toma forma e faz sentido, assim sendo, e mais uma vez, reafirmo a vitalidade da questão pluralidade.

As alternativas que mencionas já existem, somos nós bloggers(por exemplo). Agora não te podes esquecer que tu e eu "nunca" seremos entidade gestora de notícias, apenas as repercutimos com o acréscimo de dizermos o que pensamos sobre essa mesma notícia. Portanto se não houver os requisitos minímos de isenção que estão, não só mas também, ligados à pluralidade aquilo que tu e eu repercutimos pode estar à partida inquinado. Mas se nos singirmos às alternativas vamos ter as condicionantes mencionadas anteriormente juntamente com a fraca influência que temos, que resulta também de os meios alternativos de informação ainda não serem tão acessíveis como a televisão e jornais.

Para te dar um exemplo, eu soube que o Estado pouco antes das presidenciais comprou um hospital privado que estava na falência por vinte vezes o preço normal, isto em qualquer regime democrático é uma escandaleira. Mas lamentavelmente eu tive de saber isso através de um membro eleito do parlamento que está a par das actividades governamentais e que o disse num site (a tal alternativa) e que fez o que a comunicação social devia ter feito.
Ora aqui está um exemplo acabado da vitalidade de termos isenção na comunicação social.

30 maio, 2006 23:37  
Anonymous Anónimo escreveu...

Meus caros Roteia e João Dias:

Verdade verdadinha é que a questão da manipulação da informação pelos media vai ficar em águas de bacalhau. Estamos surpreendidos?
As notícias e a sua hierarquização não somos nós que as fabricamos. Os media já deliberaram que o facto de alguém tocar no seu deles sacrossanto estatuto, NÃO É notícia.
Ainda não estamos surpreendidos, pois não?

31 maio, 2006 20:48  
Blogger João Dias escreveu...

Claro, Propanolol, eu até acho que ,tanto eu como o Roteia, estavamos no "caminho certo" porque estavamos finalmente a discutir a comunicação social e não a personalidade Carrilho.

Claro que não estamos surpeendidos mas os media não vivem acima do seu estatuto, e se houver de facto descontentamento geral eles terão, quer por forças democráticas ou até de mercado, reverem-se a si mesmos e ao seu estatuto.
Mas claro que na realidade sabemos que não existe "vontade popular" para de facto exigir rigor na comunicação social.

31 maio, 2006 21:55  

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