
Dizer que "uma imagem vale mais que mil palavras", é um lugar comum que perdeu
todo o sentido - a proliferação de imagens, mais ou menos qualificadas, invadiu a
quase totalidade dos espaços de comunicação. Compete por isso aos artistas,
particularmente aos fotógrafos, reflectir sobre a crescente banalização do uso de
imagens e questionar os poderes que delas se servem para manipular os indivíduos
e as sociedades, tanto na intimidade como à escala global.
Constatamos que no mundo mercantilizado dos media, palavra e imagem tendem a
ilustrar-se mutuamente e, neste contexto, a desvalorizar-se por perda da magia
e da especificidade que uma e outra deveriam conter. A tendência documentalista
da imagem fotográfica está omnipresente no nosso quotidiano, registando tudo e
todos, anónimos e anódinos incluídos, por vezes esteticizando desgraças, como
faziam os fotógrafos salonistas do passado, e quase sempre explorando frivolidades
lucrativas.
O consumo diário de imagens vem corroendo as funções tradicionais da arte e as
suas componentes estéticas. Os horrores da guerra, por exemplo, são documentados
em "directos" televisivos a partir dos "cenários" de conflito, tornando as imagens
parte integrante desse conflito, ou até o seu pretexto.
Lembrar Francisco Goya (1746-1828) na série Los Desastres de la Guerra e
em Los Fusilamientos, vem a propósito, pelo contraste e pela grandeza estética.
Pensamos que a blogosfera enquanto alternativa aos media tradicionais pode ensaiar
novas tensões entre fotografias e textos. Dito de outro modo, cruzar palavra e imagem
sem intuito ilustrativo e deixar que elas dialoguem entre si.
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Fotografia > Fernando Lemos (n.1926), Portugal
> Luz Teimosa, 1949/52 (Colecção Berardo)
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Etiquetas: blogosfera, Fernando Lemos, Francisco Goya