quinta-feira, fevereiro 23, 2006

TERESA E HELENA



Uma pintura do século XVI que não escandaliza os visitantes do Museu do Louvre,
a lembrar um casamento que ficou por fazer em Portugal.
No passado dia 16, com 7ooo assinaturas, foi entregue na Assembleia da República
uma petição para que se discuta a igualdade de direitos no acesso ao casamento civil.
Resta esperar dos deputados uma decisão rápida e justa, de acordo com o texto
constitucional .
Saudações ultraperiféricas.
[R]

Pintura > Anónimo, École de Fontainebleau (França)
> Deux femmes, c. 1594. Paris, Musée du Louvre.

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terça-feira, fevereiro 21, 2006

DESTERRADO



Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, foi constituido arguido no caso
do chamado "Tunel de Ceuta", tendo já prestado declarações à justiça.
Estivemos no Porto e vimos com os nossos próprios olhos: o túnel desemboca à
distância de um passeio, mesmo em frente da fachada principal do Museu Nacional
Soares dos Reis. Não comentamos aspectos jurídicos, mas consideramos este túnel
um escândalo nacional.

Soares dos Reis (1847-1889), realizou em Roma O Desterrado, em 1872, mas as
invejas e dissabores causados por esta obra, e outros desgostos que rodearam a
carreira do escultor na cidade do Porto, terão ditado o seu suicídio com dois tiros
de pistola. No início da República, em 1911, far-se-ia justiça atribuindo o nome de
Soares dos Reis ao antigo Museu Portuense. O Desterrado seria entretanto
considerado o ícone máximo do próprio museu e uma obra prima da escultura
romântica portuguesa.

Antes de se ter suicidado, Soares dos Reis escrevia numa parede do seu atelier:
“Sou cristão, porém nestas condições a vida para mim é insuportável.
Peço perdão a quem ofendi injustamente,
mas não perdoo a quem me fez mal”.
Se regressasse do além, Soares dos Reis não perdoaria a Rui Rio.

Saudações ultraperiféricas.
[R]

Escultura > Soares dos Reis (1847-1889),
> O Desterrado, 1872, Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
(Fotografia de Teófilo Rego, c.1955).
[R]

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domingo, fevereiro 19, 2006

AGOSTINHO DA SILVA



"Os Homens creêm-se livres apenas porque desconhecem as coisas que controlam
a sua razão..."
> Agostinho da Silva (1906-1996)
[H]

Fotografia > Autor n/identificado,
> Agostinho da Silva na varanda de sua casa, Lisboa, 1988.
(do álbum pessoal de A. Silva)

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COLECÇÃO BERARDO NO CCB?



Durante anos, as negociações entre o Estado e o empresário Joe Berardo pareciam
não sair do impasse. Mas em Dezembro último, com a garantia do 1º Ministro José
Sócrates, anunciava-se finalmente a localização do futuro museu de arte moderna
da Colecção Berardo no Centro Cultural de Belém.
Agora, Berardo ameaça romper acordo com Governo, conforme noticiou o Expresso
este Sábado. Para complicar as coisas, no mesmo dia, a Ministra da Cultura Isabel
Pires de Lima, vem lamentar que o coleccionador tenha trazido o assunto para os
jornais quando se dava início a uma fase definitiva do processo negocial.

E Portugal continua museológicamente ultraperiférico!
[R]

Escultura > Juan Muñoz (1953-2oo1), Espanha
> After Degas II, 1997. Colecção Berardo

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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

GLOBALIZAÇÃO E TERROR



Todo o alarido em torno do "caso cartoons" é paradigmático das diferenças
civilizacionais entre dois mundos. De um lado, o mundo democrático ocidental,
usando e abusando da imagem, do outro lado, o mundo ditatorial islâmico, assente
em relações de poder que se vêm perpetuando através da palavra.

Dada a sua reproductibilidade nos media, a imagem mecanizada – nas suas variantes
fotográfica, videográfica ou infográfica – é a força motriz da globalização. Tornou-se
por isso uma ameaça civilizacional para ambos os lados, porque transforma hábitos
ou abre roturas históricas no campo da comunicação.
Do lado de cá, devido à banalização mercantilizada da imagem, e à sua consequente
utilização manipulatória (no Ocidente do mercado "livre" só tem existência o que
se reproduz e mediatiza), existe uma ameaça sobre o sistema de valores tradicional;
do lado de lá, porque uma previsível secundarização da palavra sagrada (a palavra
corânica) pode colocar em perigo modos de sobrevivência seculares, o sistema
hierárquico político-religioso e a própria fé.
A manipulação exercida sobre os crentes muçulmanos tem um significado maior que
a intolerância, o fanatismo violento ou a cólera das multidões. Significa também medo
e astúcia.

Ao contrário do cristianismo, com longa história iconográfica, o islamismo proíbe ou
desaconselha a representação por imagens. Se a nudez da figura de Cristo, desde a
pintura renascentista, não impressiona nenhum crente, já a simples representação
da figura de Maomé pode tornar-se chocante ou blasfema.
Neste contexto, os cartoons são apenas uma forma de expressão de liberdade. Não
são a liberdade de expressão. E o que afinal nos deve interessar, face à diferença,
é a responsabilidade de expressão .
O mundo islâmico fará o seu caminho com imagens, mais rápidamente do que parece,
se não tiver como pretexto a intrusão cristã.

A resistência muçulmana à hegemonia globalizante do Ocidente, tira partido do
sistema mediático ocidental. Vejam-se os atentados de Nova Iorque, Madrid e
Londres. Aterrorizados do lado de lá, tornam-se terroristas do lado de cá, servindo
-se dos nossos media para disseminar o terror. E nós engolimos. E eles fabricam
mártires.

Não existe um choque de civilizações, existem diferenças civilizacionais. Por isso
repetimos: mais importante que a liberdade de expressão é a responsabilidade
de expressão. Se não entendermos isto, sobrará alguma coisa nos dois lados?

Saudações ultraperiféricas.
[R]

(texto adaptado de um comentário nosso em Good Sport! Os Cartoons via Irão,
em Adufe)

Fotografia > Paulo Baptista (n.1960),
> Mãos, 1985 (foto © FC/CRO).

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

ÁLVARO LAPA (1939-2006)



Sábado, 11 de Fevereiro, morreu o pintor Álvaro Lapa. Figura fundamental da arte
portuguesa contemporânea, nasceu em Évora em 1939, fixando-se no Porto a partir
de 1973. Aprendemos com ele, ao olhar a sua escrita pictórica, uma dimensão estética
e poética do despojamento.

A sua última exposição está patente na Galeria Fernando Santos, R. Miguel Bombarda,
Porto. Até 7 de Março.

Pintura > Álvaro Lapa (1939-2006)
> Presidiáriamente, 2005
[R]

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sábado, fevereiro 11, 2006

CASCAS DE BANANA



No blog Os tempos que correm, Miguel Vale de Almeida escreveu um artigo intitulado Mediterrâneo que nos suscita um comentário alargado acerca do caso dos cartoons.

As liberdades de expressão e de informação de que o sistema democrático ocidental
faz tanto alarde não são intocáveis. Poder-se-á até argumentar que, apesar de tudo,
nenhum outro sistema lhe chega aos calcanhares. Porém, coloquemos o problema
deste modo (à maneira de um cartoonista): as liberdades têm vindo a transformar-se
num terreno minado por cascas de banana, no qual escorrega cada vez mais um
ocidente arrogante e auto-convencido.
As lideranças político-religiosas do mundo islâmico já perceberam que a nossa maior
força reside nos valores da liberdade e utilizam magistralmente as contradições do
sistema democrático, no qual tantas vezes à conta da liberdade se ocultam
irresponsabilidade e lucro. Não é verdade que as regras do mercado, dito livre,
vendem notícias como quem vende sabonetes?

Tanto faz que manifestemos ou não um repúdio sincero pela grotesca manipulação
das massas fanatizadas. Todos sabemos que os poderes se perpetuam pela
manipulação dos ideais religiosos ou, em sua substituição, por outros ideais ditos
nobres. Mas também sabemos que o Islão iconoclasta repudia a representação do
rosto de Deus. E sobrevive através disto mesmo, proibindo que a Imagem substitua
a Palavra.

Se alguma coisa existe de verdadeiramente preocupante no mundo dito civilizado,
é justamente a banalização da imagem. E eles sabem que nós comemos bandeiras
queimadas ao jantar dos telejornais.

Veja-se a propósito de imagens, os prémios anuais do World Press Photo, sempre
um sucesso estrondoso, feito em grande medida à custa das tragédias do 3º mundo.
Ou o miserabilismo lucrativo de Sebastião Salgado, com a agravante deste fotógrafo
se permitir colar ao seu talento a exploração do voyeurismo e a denúncia panfletária
das injustiças do mundo.
Lembremos a 1ª guerra do Iraque com os excitados directos do início de um perigo
então ainda mal conhecido. Ó glórias da tecnologia! Ó glórias da coragem na frente
de batalha! Ó estrondosa inovação da liberdade de informar! E quando falta matéria
pirotécnica, abre-se um telejornal com o caso do “neto que matou a avó à paulada”.

O jornalismo ocidental embarca na ideologia economicista como embarca em
qualquer tragédia descartável. Vende-se e pronto, cada um é livre de enriquecer…
Por detrás dos empregos nos órgãos de comunicação estão máquinas calculadoras,
interesses políticos e financeiros, todos respeitáveis e intocáveis. Vai daí a blogosfera,
autêntica alternativa potencial à inconsistência das liberdades de um certo jornalismo
(ó sacrossanta corporação!), também começa a render-se à agenda mediática.
Os jornalistas entram em massa na blogosfera e a coisa não melhora. Felizmente
há excepções, esperemos que se multipliquem.

E nós por cá, ultraperiféricos? Não fomos já dominados pelo sábios do Islão? Não
temos ainda, na língua e nos costumes a herança árabe? Não tarda nada ainda
acabamos a precisar de ditadores. Ou salvadores de pátrias e de bons costumes.

Saudações ultraperiféricas.
[R]

Fotografia > Foto Camacho,
> Açoteias, Olhão, 1966 (foto © FC/CRO)
[R]

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quarta-feira, fevereiro 08, 2006

ESCOLHAS: JOSÉ M. RODRIGUES





























































José M. Rodrigues
(n.1952), Solo, 2005. © Todos os Direitos Reservados

Nem tudo é ultraperiférico em Portugal. Felizmente todos os dias há portugueses
a fazer bem feito. Por isso, abrimos aqui um espaço de escolhas, que actualizaremos regularmente.
Iniciamos com Solo de José M. Rodrigues. O artista, Prémio Pessoa em 1999,
apresenta um projecto fotográfico recente, no Porto, Galeria Sala Maior, até 14
de Fevereiro.
De cortar a respiração.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ó DESLUMBRE!

Ó portugueses, sonhem là!

Sonhar faz bem à saúde! Sonhar ajuda a baixar os níveis de stress! E acreditem
que ele há sonhos que podem ser, ó deslumbre, concretizados, ai não que não há!


Eduardo Portugal (1900-1958), Tecto da Misericórdia de Alenquer, c.1940 (Fotog. FHCRO)

Senão, reparem:
Ele é ou não é verdade que o Sr. Dr. Aníbal, com o seu afinco, concretizou, ó
deslumbre, o sonho de chegar a Belém?
Ele é ou não é verdade que a Sra. D. Maria Cavaco, com o seu afinco, concretizou, ó
deslumbre, o seu sonho de ser primeira-dama?
Ele é ou não é verdade que certos grupos económicos, com o seu poder de pressão
sobre certa comunicação social, concretizaram, ó deslumbre, o sonho de precaver
os seus interesses?
Ele é ou não é verdade que certa comunicação social, com o refinamento dos seus
métodos, concretizou, ó deslumbre, o sonho de influenciar o voto?
Então, portugueses! Và là, deslumbrem-se! Afinal, vendo bem, foi menos de metade
dos portugueses quem lhes permitiu concretizar os seus sonhos.
Quem sabe se a outra mais-de-metade não pode contribuir para que a menos-de
-metade, ó deslumbre, sonhe mais e melhor?
Quem sabe se a partir de Março muitos acontecimentos não poderão vir a deslumbrar
-nos, a fazer-nos sonhar, a sacudir as nossas cabeças...
Quem sabe se ilustres membros das Casas Reais Europeias não visitarão Portugal, a
convite, ó deslumbre, da Sra. D. Maria Cavaco...
Quem sabe se o Contra-Informação não será condecorado, ó deslumbre, ou
convidado para um bouffet no Palácio de Belém...
Quem sabe até se o Sr. Dr. Aníbal não expressará públicamente as excelentes relações
da Casa Real, perdão, da Presidência da República com o Primeiro Ministro...

E tantos, tantos outros sonhos deslumbrantes que poderão vir a surpreender-nos,
neste lindo jardim ultraperiférico à beira-mar betonizado!

Saudações ultraperiféricas. Vosso, PropranoLoL.