ICONOCLASTIA

Há uma longa caminhada a fazer para ultrapassar resistências ou dificuldades de
convívio com os nossos ícones culturais. Quase sempre e em quase todas as áreas,
aquilo ou aquele que brilha é, em Portugal, factor de divisão e polémica, muito para
lá da legitimidade crítica, como se os portugueses não soubessem unir-se em torno
dos seus próprios valores. Os exemplos abundam, mas para referir apenas a área
da música lembremo-nos dos casos de Amália, Carlos Paredes ou Zeca Afonso.
À grandeza e ao talento, em torno dos quais qualquer comunidade pode rever-se
com orgulho, reagem os portugueses com indiferença ou animosidade,
transformando factores de unidade em factores de divisão. E nada disto se refere
ao exercício da crítica, que entre nós é frequentemente tomado por maledicência.
O actual Presidente da República, Cavaco Silva, a quem cumpriria preservar os
símbolos colectivos do país, apresentou-se uma vez mais na comemoração oficial
do Dia da Liberdade, em dissonância com a Revolução dos Cravos. Diz ele, para já
renegando o cravo na lapela presidencial, que é preciso inovar o modelo das
cerimónias evocativas do 25 de Abril.
Interroguemo-nos: Porque persiste o PR em "partidarizar" o cravo vermelho, se
este é o símbolo máximo de um acontecimento histórico, prévio à formação ou à
legalização dos partidos políticos? Se a permanência deste símbolo depende do seu reconhecimento por parte da maioria dos cidadãos do nosso país, como é o caso,
porquê reduzi-lo a emblema da Esquerda? Será que o PR não se revê no vermelho
pacífico de uma flor que se substituiu nas espingardas às balas e ao sangue que
todas as convulsões políticas deviam evitar?
[R]
Pintura > Anónimo (séc. XV), Portugal
> Ecce Homo, c.1490, col. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
[R]

Há uma longa caminhada a fazer para ultrapassar resistências ou dificuldades de
convívio com os nossos ícones culturais. Quase sempre e em quase todas as áreas,
aquilo ou aquele que brilha é, em Portugal, factor de divisão e polémica, muito para
lá da legitimidade crítica, como se os portugueses não soubessem unir-se em torno
dos seus próprios valores. Os exemplos abundam, mas para referir apenas a área
da música lembremo-nos dos casos de Amália, Carlos Paredes ou Zeca Afonso.
À grandeza e ao talento, em torno dos quais qualquer comunidade pode rever-se
com orgulho, reagem os portugueses com indiferença ou animosidade,
transformando factores de unidade em factores de divisão. E nada disto se refere
ao exercício da crítica, que entre nós é frequentemente tomado por maledicência.
O actual Presidente da República, Cavaco Silva, a quem cumpriria preservar os
símbolos colectivos do país, apresentou-se uma vez mais na comemoração oficial
do Dia da Liberdade, em dissonância com a Revolução dos Cravos. Diz ele, para já
renegando o cravo na lapela presidencial, que é preciso inovar o modelo das
cerimónias evocativas do 25 de Abril.
Interroguemo-nos: Porque persiste o PR em "partidarizar" o cravo vermelho, se
este é o símbolo máximo de um acontecimento histórico, prévio à formação ou à
legalização dos partidos políticos? Se a permanência deste símbolo depende do seu reconhecimento por parte da maioria dos cidadãos do nosso país, como é o caso,
porquê reduzi-lo a emblema da Esquerda? Será que o PR não se revê no vermelho
pacífico de uma flor que se substituiu nas espingardas às balas e ao sangue que
todas as convulsões políticas deviam evitar?
[R]
Pintura > Anónimo (séc. XV), Portugal
> Ecce Homo, c.1490, col. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
[R]
Etiquetas: Anónimo Português/séc. XV, ícones culturais