quinta-feira, novembro 30, 2006

[citação 16]
E SAIBA QUEM ISTO LER




E saiba quem isto lêr (porque lhe parecerá por ventura cousa
leve o desenho) que não ha hoje este dia debaxo das strellas
cousa mais deficil e ardua que o desenhar. (...) E em tanto
ponho o desenho, que me atreverei a mostrar como tudo o
que se faz em este mundo é desenhar.

Citação >
Francisco de Holanda (1517-1585)
> in Da Pintura Antiga, 1548, ed. Imprensa Nacional/CM, Lisboa, 1984

Fotografia > Helena Almeida (n.1934)
> Dentro de Mim, 1998, fotografia, col. Fundação Luso-Americana para o
Desenvolvimento, Lisboa.
[R]

(Adenda) Pesquisar Francisco de Holanda
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Holanda
http://www.instituto-camoes.pt/CVC/filosofia/ren5.html
http://www.mosteirojeronimos.pt/english/web_mosteiro_jeronimos/html/hist
[R]

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domingo, novembro 26, 2006

MÁRIO CESARINY (1923-2006) : link








Voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Ísis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco e flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do mênstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe a cidade futura
onde "a
poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela"

Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhes como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
"a machadada e o propósito de não sacrificar-se não constituirão
ao sol coisa nenhuma"

nada está escrito afinal


Fotografia > Fernando Lemos (n.1925)
> Mário Cesariny de Vasconcellos / A Mão Secreta da Escrita, c. 1950,
Col. Berardo, Lisboa

Obras > Mário Cesariny (1923-2006)
> Soprofigura, 1947, pintura (col. Galeria Neupergama, Torres Novas)
> Voir deux foix, c. 1947, desenho/colagem (col. Alberto Caetano)
> Sem Título, s/data, objecto (col. Fundação Cupertino de Miranda, Famalicão)
> Voz Numa Pedra, in Pena Capital, 1957, ed. Assírio & Alvim, Lisboa, 2004

Pesquisar Mário Cesariny

http://www.astormentas.com/cesariny.htm
http://www.revista.agulha.nom.br/mcesariny.html

http://www.aldinaduarte.com/blog/?p=709#comments
http://retrato-auto.blogspot.com/2006/11/cesariny-ainda.html
http://daliteratura.blogspot.com/2006/11/cesariny-1923-2006.html
http://frenesi-livros.blogspot.com/2006/11/na-morte-de-um-pirmano.html
http://vidainvoluntaria.blogspot.com/2006/11/os-novembrinos-abrem-alas-para
http://almocrevedaspetas.blogspot.com/2006_11_01_almocrevedaspetas_archive
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/2006/11/mrio-cesariny-1923-2006.html
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/2006/11/cesariny-um-cadver-esquisito.html
http://welcometoelsinore.blogspot.com/2003/12/gente-que-brilha-v-sempre-muito-e-uma
(...)

[
R]

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sábado, novembro 25, 2006



[PF #4.] - Temporal.

Sexta à tarde as ruas de Lisboa pareciam rios e o trânsito era caótico no meio do
dilúvio e do vendaval. Enquanto isso, a polícia, sempre zelosa e certeira na escolha
de locais e situações para fazer cumprir a lei, seleccionou zonas rentáveis como a
Av. D. Carlos I, escondeu-se em pontos estratégicos e foi um ver se te avias de
carros trancados e de multas de sessenta euros. Os condutores desesperados por
encontrar um buraco onde estacionar por uns minutos, caíram na armadilha. No
fundo de cada cidadão ainda permanece a fantasia de que as autoridades policiais
existem para nos proteger e auxiliar em dias como o de ontem. Mas muitos
portugueses já estão habituados a estas artimanhas da polícia quando o Natal se
aproxima: é preciso engrossar o subsídio para o consumismo frenético da época.
E a percentagem das multas vem mesmo a calhar.
[PF]

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sexta-feira, novembro 24, 2006

[citação 15]
AS CARACTERÍSTICAS DAS CORES




(...) as características das cores simples que elaborámos são
provisórias, tão
elementares como os sentimentos que expressam
(alegria, tristeza, etc.). Não
são mais do que estados materiais da
alma. Mais subtis do que as
nuances da
música são as das cores.
As vibrações que despertam na alma são mais finas
e mais
delicadas, intraduzíveis em palavras.
(trad. Propranolol)

Citação/Pintura > Wassily Kandinsky (1866-1944), Rússia/França
> in Concerning the Spiritual in Art (1911), ed. Kessinger, London, 2004
(edição portuguesa > Do Espiritual na arte, ed. Dom Quixote, Lisboa, 1999)

> Première Aquarelle Abstraite, 1910 (1913?), Col. Musée National d'Art Moderne/
Centre Georges
Pompidou, Paris
[R]

[adenda]
Falamos geralmente de arte abstracta quando com mais propriedade deveríamos
dizer Arte Não-Figurativa, visto que o conceito de abstracção,
significando
literalmente "tirar para fora, separar da realidade", pode aplicar-se
a qualquer
representação artística, incluindo a arte figurativa.

A pequena aguarela acima reproduzida, assinada por Kandinsky e datada de 1910,
marca o início do Abstraccionismo, enquanto movimento de vanguarda
da Arte
Moderna, do qual Kandinsky é considerado o fundador. No entanto, alguns
investigadores
defendem que terá sido realizada cerca de 1913 e que o pintor
poderá
ter acrescentado posteriormente a data de 1910 para assegurar que lhe
seria
atribuída a paternidade da Abstracção.

Pesquisar Wassily Kandinsky
tp://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/kandinsky/default.shtm
http://www.artcyclopedia.com/artists/kandinsky_wassily.html
http://www.rollins.edu/Foreign_Lang/Russian/kandin.html
http://www.artelino.com/articles/wassily_kandinsky.asp
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/kandinsky
http://fr.wikipedia.org/wiki/Wassily_Kandinsky
http://www.glyphs.com/art/kandinsky
[R]

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domingo, novembro 19, 2006

A CAIXA



Um dos principais contributos da blogosfera enquanto meio de comunicação reside
na possibilidade de debater ideias com os leitores, bloggers ou não, através da caixa
de comentários, ou caixa de diálogo como prefiro chamar-lhe. Visitantes que
antes desconhecíamos escrevem o que pensam sobre determinado assunto, por
vezes alargando o sentido de um post, outras vezes trazendo luz sobre uma ideia.
Estabelecem-se cumplicidades, criam-se laços pessoais, recolhem-se impressões
sobre o que vamos fazendo, enriquecem-se análises e perspectivas, aprende-se
com o ponto de vista do outro.
Alguns bloggers optam por fechar a caixa, uns para evitar comentários indesejados,
outros por mero desinteresse, ou simplesmente porque utilizam a net como
utilizariam qualquer outro meio para publicação dos seus textos, outros ainda
fazem-no por uma questão de pose, de indiferença estudada.
Temos presente que os parcos hábitos de diálogo na sociedade portuguesa são um
problema antigo, coisas de um país que viveu longamente isolado do mundo. No
Ultraperiférico, procuramos dar tanta atenção aos comentários como aos nossos
posts. Aqui fica hoje, com o devido destaque, este comentário deixado por Paulo
no post anterior.

paulo escreveu...
A economia de mercado, o capitalismo, são portadores de injustiça e alienação.
A turba consome, procria e produz. São clientes, contribuintes, recursos
humanos. Tudo no presente contínuo. O consumo é o prémio por bom comportamento. Pensar não é uma tarefa da turba. É até censurável.
Inconsciência de si, mundo plano, vida dirigida: entes amestrados. Não há
escravos nem proletários, nem sequer devotos de uma religião do dinheiro,
apenas peças de uma engrenagem social que produzem de um lado para
consumir do outro.
Vidas em meia pensão não têm deuses nem mitos outros que os que formam
acerca do redil mental em que existem. Como poderiam ter se acabou o
passado, se não há origem, se as palavras perderam os étimos; de facto não
há palavras só há marcas. Têm TV. Quando desligam a TV (a voz do dono)
dormem. Se desligarem muito tempo perdem-se. Se nunca mais ligaram é
porque morreram.
Talvez só a guerra, a fome, a morte e os outros males que saíram da caixa,
ensinem um dia a partilhar a escassez. Talvez o gesto de Pandora não tenha
sido um castigo. Ou talvez a esperança fosse também um castigo.
18 Novembro, 2006 04:18
Objecto > Lourdes Castro (n.1930), Portugal
> Caixa alumínio com caixa de aguarelas, 1963, Col. Centro de Arte Moderna/FCG,
Lisboa
(sobre Lourdes Castro v. tb. aqui).
[R]

[Adenda > 20.11.2006]
Lourdes Castro realizou uma série de caixas em "assemblage" no início da década de
1960, antes de se dedicar às sombras que viriam a definir o seu percurso posterior.
A artista vivia então em Paris, para onde partira em 1957 fugindo da pacatez
medíocre da capital portuguesa, e por lá fundou com René Bertholo o grupo KWY
(1958-1963), cuja designação brincava com as três letras ausentes do alfabeto
português ("Ká Wamos Yndo", disse alguém).
Acerca das suas caixas Lourdes Castro escreveu em 1961: "(...) Eu colo tudo o que
é para deitar fora, todas as tralhas que já não servem para nada, velhas coisas
usadas, novas, muito novas, sem graça, colo-as umas ao lado das outras,
empilhadas ou seguindo linhas, não sei quais, espaços em volta ou espaços
nenhuns,
cheios. Pinto tudo de alumínio. É isto."
[R]

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quarta-feira, novembro 15, 2006

PROMETEU E PANDORA



Será que a crença na economia de mercado é portadora de felicidade e nos torna mais
livres? Ou será que os novos mitos do consumo apenas nos remetem para a condição
de consumidores consumidos? Será que os deuses dos antigos gregos fundadores da
nossa civilização continuam a punir-nos?

Segundo a mitologia grega, quando os deuses do Olimpo criaram a espécie humana
privaram-na do fogo, o elemento da inteligência. Porém, o titã Prometeu, afeiçoado
aos mortais, decidiu roubar o fogo que era atributo divino e entregá-lo à humanidade.
A ira de Zeus foi terrível: ordenou que Prometeu fosse enviado para a terra dos
homens e aí ficasse agrilhoado a uma coluna, de modo a que durante o dia o seu fígado
fosse devorado por uma águia e durante a noite se regenerasse, para ser devorado de
novo no dia seguinte, até à eternidade.



Mas Zeus, ainda não satisfeito, decidiu lançar uma maldição sobre a humanidade,
enviando à Terra uma mulher irresistível, a bela Pandora, para que entregasse a
Prometeu uma caixa repleta de todas as pragas: doenças, medo, ódio, tristeza,
loucura, e um sem número daqueles que viriam a ser os males da condição humana.
Prometeu, desconfiando da crueldade de Zeus, recusou a caixa e recomendou a
Pandora que não a abrisse. Curiosa, ela não resistiu e acabou por abri-la,
espalhando assim o sofrimento sobre a Terra. Porém, na sua fúria vingativa, Zeus
tinha deixado na caixa, por engano, a Esperança.
[Bolota]

Pintura > Pieter Paul Rubens (1577-1640), Bélgica (Flandres)
> Prometheus, 1611/1612, Col. Philadelphia Museum of Art, USA

Fotografia/Cinema > G. W. Pabst (1885-1967), Áustria/EUA
> Louise Brooks, in "Pandora's Box", 1929.
Adenda: v. Louise Brooks no Sub Rosa.
[R]

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terça-feira, novembro 14, 2006

POIS !



A propósito dos posts de Personagem de Fricção e respectivas caixas de comentários,
não resisto a citar Alexandre O'Neill: "ó Portugal, se fosses só três sílabas, de
plástico que era mais barato!".
[P]

Pintura > Manuel Casimiro (n.1941), Portugal
> Projecto bandeira nacional, 1983/84
[R]

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quinta-feira, novembro 09, 2006



[PF #3.] - Crise.
Antes da Revolução não havia nada, nem uma crisesita para arrebitar. Chega a dita
e zás! Crise! Década de oitenta, crise! Década de noventa, crise! Séc. XXI, crise!
Estamos em crise há trinta e tal anos. Pois! Pensávamos nós, incautos, que as crises
são por definição temporárias. Pois pensávamos, mas não são. Também pensávamos
que eram sinónimo de oportunidade. Parece que sim, para alguns. Em cada campanha
eleitoral os candidatos desconhecem, coitados, a gravidade da crise e, chegados ao
poder deparam-se, duas vezes coitados, com a necessidade de tomar medidas duras.
As ditas não costumam ter o mesmo significado para um empregado de shopping
ou para um economista de sucesso. Diz este: "porque a crise é gravíssima, porque é
preciso vencer o défice, porque é preciso fazer sacrifícios". E porque assim e porque
assado. E a crise continua, governo após governo. Lisboa é o espelho: crescem as
hostes de pobrezinhos nas ruas e cresce o mostruário de veículos topo de gama. Tudo
a par, tudo perfeito. Vai ser comovente assistir a futuras promessas eleitorais! Falta
prometer o quê?
[PF]

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sábado, novembro 04, 2006

[citação 14]
QUEM, SE EU GRITASSE



Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens
dos anjos? e mesmo que um me apertasse
de repente contra o coração: eu morreria da sua
existência mais forte. Pois o belo não é senão
o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar,
e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha
destruir-nos. Todo o anjo é terrível.

Citação >
Rainer Maria Rilke (1875-1926), Áustria
> in As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu (excerto de A Primeira Elegia),
1912-1922, ed. Inova, Porto, s/d (1969) > "versão" de Paulo Quintela.

Fotografia > Carlos Severino de Avellar (18??-191?), Portugal
> Homem de costas, Lisboa, 1908. (foto © FH/CRO).

[Apêndice]
Optei, entre duas traduções das Elegias de R. M. Rilke, por citar a mais antiga,
justamente a "versão" de Paulo Quintela, publicada em 1969, uma vez que foi
através dela que ocorreu o meu primeiro contacto com esta obra. Mas porque a
tradução mais recente de MariaTeresa Dias Furtado apresenta diferenças
assinaláveis que afectam a forma e o sentido dos célebres sete primeiros versos
d'A Primeira Elegia, decidi transcrever também esta tradução, procurando assim
fornecer elementos para leituras comparativas entre ambas e apreciação do delicado
trabalho destes tradutores. E presto aqui uma pequena homenagem a todos aqueles
a quem coube transportar para a nossa língua, com esforço e saber, obras poéticas
de dimensão universal.

"Se eu gritar, quem poderá ouvir-me, nas hierarquias

dos Anjos? E, se até algum Anjo de súbito me levasse
para junto do seu coração: eu sucumbiria perante a sua
natureza mais potente. Pois o belo apenas é
o começo do terrível, que só a custo podemos suportar,
e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha
destruir-nos. Todo o Anjo é terrível."

> in Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, ed. Assirio & Alvim, Lisboa, 1993
> Trad. Maria Teresa Dias Furtado
[R]

[citação 14: adenda/fragmento]
O BELO



...o belo não é senão o começo do terrível...

Fotografia > Imogen Cunningham (1883-1976), EUA
> Magnolia Blossom (Magnolia grandiflora), 1925, Col. Imogen Cunningham Trust
[R]

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sexta-feira, novembro 03, 2006

[citação 13]
E VÊ ESTES DOIS MENINOS DE ESCOLA



E vê estes dois meninos de escola: um compra um canivete, e o
seu vizinho compra outro igualzinho no mesmo dia. E mostram
um ao outro os canivetes passada uma semana, e vê-se então que
eles só de muito longe se parecem, -- tão diferentemente eles se
desenvolveram em mãos diferentes.

Citação > Rainer Maria Rilke (1875-1926), Áustria
> in Os Cadernos de Malte Laurids Brigge (1910), ed. Inova, Porto, 1975
> trad. Paulo Quintela

Pintura > Paul Klee (1879-1940), Suíça/Alemanha
> Alles läuft nach! (Uns atrás dos outros!), 1940, Col Kunstmuseum Bern,
Fundação Paul Klee, Berna

Pesquisar Paul Klee

> http://www2.swissinfo.org/spt/swissinfo.html?siteSect=2550
> http://www.paulkleezentrum.ch/ww/en/pub/web_root.cfm
> http://www.mcs.csuhayward.edu/~malek/Klee.html
> http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Klee
[R]

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