sábado, setembro 09, 2006

[citação 08]
COM O CORRER DOS ANOS



Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como
a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não
estejamos, um instante, no paraíso.


Citação > Jorge Luis Borges (1893-1986), Argentina
> in Os Conjurados (excerto do Prólogo), ed. Difel, Lisboa, 1985

Instalação > Lourdes Castro (n.1930), Portugal (Madeira)
> Montanha de Flores, 1988-2003 > fotografia de Victor Simões

"Mesmo depois de murchas, as pétalas de um ramo de Malvas que vão diariamente
caindo e que ela diáriamente compõe, desenham-lhe há já catorze anos uma
montanha de flores", escreveu Manuel Zimbro a propósito desta obra de Lourdes
Castro, apresentada pela primeira vez em "Além da Sombra" (Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 1992) e, mais recentemente, em "Sombras à Volta de um Centro"
(Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, 2003).

O Ultraperiférico considera esta instalação uma das obras mais marcantes da arte
portuguesa
contemporânea.
[P]

Lembranças do Ultraperiférico para >> Lourdes Castro <<.

[P]/[R]

[Adenda > 11.9.2006]
O registo fotográfico desta instalação de Lourdes Castro não faz (talvez nem pudesse
ter feito)
inteira justiça à imagem que permanece na memória:
Uma sala escura, um único foco de luz sobre um ramo de malvas vermelhas colocado
num cilindro/jarra de vidro, com pétalas caídas em redor, assente num suporte/mesa
quadrado, de vidro transparente, através do qual se projectam num plano inferior
paralelo, de vidro negro, sombras e reflexos da "Montanha de Flores".

Com esta simplicidade de meios, Lourdes Castro obteve um objecto plásticamente
complexo e surpreendente, uma espécie de paisagem insular, efémera, em levitação, simultâneamente viva e ilusória. Trata-se afinal da materialização sinóptica das
"Sombras à Volta de um Centro", sintetizando também todo o seu percurso artistico,

ou apenas de um momento,
lírico e onírico, de transfiguração do quotidiano.
[R]

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17 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

É, de facto, belíssima! E a LC muito mal conhecida.
E o Ultraperiférico um blogue diferente, com um excelente trabalho, que visito assiduamente...
As minhas saudações.

10 setembro, 2006 06:09  
Anonymous Anónimo escreveu...

Caro CSA:
Concordo que Lourdes Castro é pouco divulgadas em Portugal, sendo uma das raras figuras da arte portuguesa reconhecida internacionalmente (mas creio que ela não se importa nada com isso). Graças à blogosfera, talvez nos caiba a nós, que admiramos a sua obra, acrescentar alguma coisa áquilo que já foi feito por algumas instituições e editores.

Gratos pelas suas palavras.
Abraços.

11 setembro, 2006 04:51  
Blogger Aldina Duarte escreveu...

Parabéns e Obrigada plo seu Blog!

Abençoado Jorge Luís Borges que eternamente nos recordará destase doutras verdades primordiais... para todos nós, atrevo-me a dizer!

Até Sempre

11 setembro, 2006 12:41  
Blogger hmbf escreveu...

Aprecio muito o trabalho de Lourdes Castro. E esse é, sem dúvida, um dos meus preferidos. Só uma nota, esperando que não me levem a mal. Onde está «podesse» talvez devesse estar «pudesse». Saúde,

11 setembro, 2006 17:57  
Anonymous Anónimo escreveu...

Talvez devesse? Obrigado, Henrique, pela correcção.

11 setembro, 2006 18:44  
Anonymous Anónimo escreveu...

Obrigado, Aldina. Estamos de acordo consigo.

11 setembro, 2006 18:51  
Blogger maria escreveu...

Por causa da Lourdes Castro acabei de queimar o jantar. Não me vais bater portanto posso confessar que sou uma ignorante e nunca tinha ouvido falar nesta artista. Fiquei curiosa e andei esquecida pela Internet à procura de informação sobre ela. Fiquei a saber algumas coisas e gostava de saber mais. O Ultraperiferico leva-me para campos que desconheço, o que é bom.

11 setembro, 2006 21:05  
Blogger AM escreveu...

gosto de todas as (poucas) obras que conheço desta artísta, que, salvo erro descobri no CAM da FCG, com uma obra de um lençol bordado com o perfil/contorno de uns corpos (?)... foi há muitos anos, aí por volta de 1986 (?)
mas sempre que ouço falar, fico "atento"

11 setembro, 2006 21:11  
Anonymous Anónimo escreveu...

Maria:
Assim numa síntese rápida, Lourdes Castro, hoje com 75 anos, tem trabalhado em torno das sombras e dos contornos dos objectos, incluindo os do próprio corpo. O seu trabalho chegou mesmo a influenciar internacionalmente outros artistas e, ainda hoje, alguns exercícios plásticos realizados nas escolas continuam a explorar as sombras a partir da sua obra.
Além da pintura e do desenho, a artista utilizou outroa materiais, como recortes de plexiglas, e trabalhou a sombra em movimento no seu Teatro de Sombras, de influência oriental.
Uma das últimas exposições de LC, em 2003 no CAM/FCG, apresentou o "Grande Herbário de Sombras", um conjunto de obras realizado em 1972 na ilha da Madeira, com sombras obtidas por contacto de plantas e flores sobre papel heliográfico (sensível à luz).
Tendo vivido desde 1957 no estrangeiro, LC reside na Madeira desde o início da década de 1980.

(PS: a palavra Lourdes no post, tem link para uma biografia essencial, em formato PDF, incluída no site do CAM).

12 setembro, 2006 01:03  
Anonymous Anónimo escreveu...

AM (António Machado):
Os lençois que refere, foram bordados pela artista na década de 60 com um ponto creio que característicamente madeirense, não apenas recuperando uma tradição feminina de enxoval, mas também uma das artes decorativas tradicionais caída em desuso. O resultado, um bordado das linhas de contorno do corpo (ou corpos) deitados sobre a cama, resulta em obras contemporâneas que contrariam a habitual verticalidade dos quadros, isto é, tornam próximos a arte e o quotidiano.
Além dos lençois LC desenhou também para a indústria textil (Fundação Woolmark) cobertores com corpos deitados.

12 setembro, 2006 02:50  
Anonymous Anónimo escreveu...

O poder da simplicidade

12 setembro, 2006 10:14  
Anonymous Anónimo escreveu...

E a grandeza da simplicidade, que apenas a sabedoria, o despojamento e o arrojo tornam possíveis.

12 setembro, 2006 13:24  
Blogger RatherCynical escreveu...

Cinismo à parte, é com estas imagens e citações tão bonitas e generosas que o ultraperiférico continua a ser o blog fantástico que todos adoramos.
Obrigado!

12 setembro, 2006 16:02  
Anonymous Anónimo escreveu...

Com estes dois pedaços de beleza - o de Lurdes Castro e o de Jorge Luis Borges - já compus o meu momento de paraíso do dia.

Obrigada

12 setembro, 2006 17:00  
Anonymous Anónimo escreveu...

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade.


Parabens pelos 9 meses.
Marga

17 setembro, 2006 09:40  
Anonymous Anónimo escreveu...

Onde diz 9, queria dizer 8.

Fico a aguardar pelos 9.

Marga

18 setembro, 2006 00:17  
Anonymous Anónimo escreveu...

Marga:
Felizmente há poetas que nos dizem coisas luminosas, essenciais. Eugénio de Andrade, neste caso, lembra-nos também coisas urgentes.

Gratos pela lembrança dos 8 meses, a caminho dos 9.

18 setembro, 2006 01:25  

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