quinta-feira, novembro 09, 2006



[PF #3.] - Crise.
Antes da Revolução não havia nada, nem uma crisesita para arrebitar. Chega a dita
e zás! Crise! Década de oitenta, crise! Década de noventa, crise! Séc. XXI, crise!
Estamos em crise há trinta e tal anos. Pois! Pensávamos nós, incautos, que as crises
são por definição temporárias. Pois pensávamos, mas não são. Também pensávamos
que eram sinónimo de oportunidade. Parece que sim, para alguns. Em cada campanha
eleitoral os candidatos desconhecem, coitados, a gravidade da crise e, chegados ao
poder deparam-se, duas vezes coitados, com a necessidade de tomar medidas duras.
As ditas não costumam ter o mesmo significado para um empregado de shopping
ou para um economista de sucesso. Diz este: "porque a crise é gravíssima, porque é
preciso vencer o défice, porque é preciso fazer sacrifícios". E porque assim e porque
assado. E a crise continua, governo após governo. Lisboa é o espelho: crescem as
hostes de pobrezinhos nas ruas e cresce o mostruário de veículos topo de gama. Tudo
a par, tudo perfeito. Vai ser comovente assistir a futuras promessas eleitorais! Falta
prometer o quê?
[PF]

Etiquetas:

15 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Estás a esquecer, ó Personagem de Fricção, a década de oiro, do oásis? A década em que não havia crise, porque o grande, grande economista nunca falhava e raramente tinha dúvidas? A década dos milhões da Comunidade europeia que entravam diáriamente? A década da oportunidade perdida?

09 novembro, 2006 02:29  
Blogger RatherCynical escreveu...

Promessas? nenhuma! Falta é cumprir Portugal.

09 novembro, 2006 14:50  
Anonymous Anónimo escreveu...

Falta prometer respeito e valores morais, cá na terra são preceitos que se encontram em rotura de stock há anos largos.
Gostei do desabafo, com pouco se escreveu o suficiente.

09 novembro, 2006 21:58  
Anonymous Anónimo escreveu...

Há já algum tempo que psicólogos e sociólogos têm vindo a estudar e a divulgar o poder assombroso do optimismo na mobilização do indivíduo e das sociedades. Por exemplo, concluiu-se que ao longo da história de eleições presidenciais nos E.U.A., em mais de 80% dos casos, a victória foi para o candidato de perfil (mais)optimista (excepção de Roosevelt e de Nixon). Vai daí, políticos e seus conselheiros decidiram que alimentar esse capital nessas pessoas era o ideal, mesmo que eles próprios não acreditassem totalmente na mensagem. A receita, claro, está a esgotar-se. A desilusão e a descrença geram o efeito contrário e assim alastra o pessimismo dos povos, filho da confiança traída.
De forma optimista, espero que, esgotada a receita, outra abordagem mais verdadeira se siga...

10 novembro, 2006 12:25  
Anonymous Anónimo escreveu...

Roteia:
Estou (muito) bem lembrado da década de oiro do Sr. Prof. que, por ser um grande, enorme economista, tornou Portugal Maior!

Rathercynical:
Estou curioso para assistir às promessas que a rapaziada da política vai fazer em futuras campanhas eleitorais. A que piruetas se sujeitarão para "vender o produto"? Vai ser divertido!

10 novembro, 2006 13:53  
Anonymous Anónimo escreveu...

Aspirinalight:
Eu também acho que não basta prometer coisas materiais. E também não basta prometer, não é verdade?

10 novembro, 2006 14:03  
Anonymous Anónimo escreveu...

Bala:
A manipulação, com pessimismo ou com optimismo, é a mesma coisa. Interessa-me colocar a questão da coerência entre a promessa e o seu cumprimento. Assim que atingem o poder, as criaturas fazem de conta que ficam chocadas com a gravidade da crise e, em verdadeiro estado de choque, tadinhos, veem-se na obrigação de tomar medidas drásticas. Foi sempre assim, e o cidadão foi sempre na conversa. Isto é simplista, eu sei, mas penso que também interessa ver as coisas por este ponto de vista.

10 novembro, 2006 14:19  
Blogger RatherCynical escreveu...

Personagem de Fricção:
Vai ser difícil com toda a certeza :)
No meu melhor espírito cínico, passo a citar:
"Li, ontem, um editorial magnífico. Não dizia absolutamente nada, mas era do contra"
Millôr Fernandes

10 novembro, 2006 17:10  
Blogger Aldina Duarte escreveu...

Falta desmascarar a verdadeira crise; somos um povo com capacidades extraordinárias, desiquilibrados por estruturas inconsistentes dirigidas por jeitosos, ou por outros piores ainda, os inomináveis!

Até sempre

10 novembro, 2006 17:10  
Anonymous Anónimo escreveu...

PF,

Compreendo o enfoque e também a curiosidade - saber como se sai do novelo. A verdade é que o próprio eleitorado crou vícios de entidade manipulada. Se aparece um mensageiro com pretensões a uma análise mais séria das questões ou portador de más notícias,o que lhe acontece? Isso...

O desafio é ganhar sem manipular numa sociedade que parece já não responder a outro tipo de estímulo.

Concordo que é obra.

10 novembro, 2006 17:33  
Blogger bettips escreveu...

E quando sentem a crise, pimba, vão para "fora". Ou do país ou para os seus tachinhos: desvanecem-se por um tempo... para voltar de mãos limpas e inocentes de toda a canalhice. Ex-ministros, ex-isto e aquilo, nunca são responsáveis! É incrível a quantidade de pessoas que vemos "ainda", caras vagamente conhecidas, presidentes ou conselheiros de qualquer coisinha que lhes arranjem. Para muitos, o tempo já é curto para o optimismo. Enquanto não forem buscar os impostos "onde há o dinheiro"... estamos na mesma. Abç

10 novembro, 2006 19:08  
Anonymous Anónimo escreveu...

Aldina:
Eu diria que o que temos são potencialidades, isso sim. Mas o que falta em Portugal, não será transformar essas potencialidades em competências, ou seja, em capacidades?

11 novembro, 2006 02:28  
Anonymous Anónimo escreveu...

Ó Rathercynical, essa é muito muito cynical.

11 novembro, 2006 02:33  
Anonymous Anónimo escreveu...

Disse muito bem, Bettips. Mas a questão também diz respeito a outros que, não estando nem tendo estado no poder, são igualmente responsáveis, mas não responsabilizados. E como não têm exposição pública, quase ignoramos ou esquecemos que eles existem, de tão centrados que estamos nos primeiros.

11 novembro, 2006 02:48  
Anonymous Anónimo escreveu...

Katrola,
Puseste o dedo na ferida. De facto, há que sair da esquizofrenia reinante em que se vê os maus do outro lado, como se os governantes de uma sociedade não fossem um dos produtos dessa sociedade e como se nós não tivéssemos nada a ver nem com as causas, nem com as consequências. Assim,o dirigente é muito bom se toma uma medida que me favorece, mesmo que vá contra aquilo que prometeu e torna-se num malandro da pior espécie se, ao contrário, me prejudica com a sua decisão, mesmo que esta estivesse prevista no seu programa de actuação.

Parece que estas falsas surpresas perante as adversidades não são exclusivo dos ditos governantes...

13 novembro, 2006 15:49  

Enviar um comentário

<< Home