ÓBIDOS WONDER

Há uns tempos que eu não passava por uma das mais belas vilas históricas de
Portugal. Cheguei curioso, disposto a observar as mudanças realizadas no mandato
de Telmo Faria, que tem sido apontado como um dos jovens autarcas-modelo do
país. Porém, a desilusão, posso dizê-lo, foi total: Óbidos mais parece um shopping
center colocado num cenário histórico.
Bem sei que em vésperas dos espectáculos religiosos da Semana Santa, o excesso
de turistas e os bandos de crentes, não favorecem a pacatez bucólica da vila, mas
não foi isto que transtornou a minha visita, tanto mais que o chão das ruas atapetado
de cedro, murta, alecrim e rosmaninho, exalava odores magníficos. O que me
revoltou foi o novo desordenamento comercial, a profusão de casas de artigos
turísticos e outras lojas com deploráveis arranjos interiores "ao estilo antigo", e
nos exteriores, tabuletas, anúncios e toda a espécie de kitsch comercial espalhado
pela fachada de cada estabelecimento.
No meio de tudo isto, a que chamam "revitalização económica local", ainda julguei
que alguma estrutura cultural pudesse salvar a impressão que me ia ficando de uma
política autárquica desastrosa. Mas não. A prova-dos-nove foi o novo Museu
Municipal agora instalado no Solar de Santa Maria, substituindo o pequeno mas
precioso antigo museu. Negam-se aqui os saberes museológicos mais elementares,
a ponto de vermos aplicados elementos gráficos de apoio e legendagem com peso
visual equivalente ao das próprias peças em exposição, isto acompanhado de
letterings assustadores.
Pobre Oeste selvático, já nem Óbidos, a sua jóia da coroa, é poupada à ignorância
saloia. Bem podem os cartazes apelar ao voto nesta "maravilha/wonder" de
Portugal... ou talvez baste dizer que o crime contra o património histórico continua
a compensar.
Pintura > Josefa de Óbidos (1630-1684), Portugal
> Cordeiro Pascal, c.1870, Col. Museu de Évora.
[R]

Há uns tempos que eu não passava por uma das mais belas vilas históricas de
Portugal. Cheguei curioso, disposto a observar as mudanças realizadas no mandato
de Telmo Faria, que tem sido apontado como um dos jovens autarcas-modelo do
país. Porém, a desilusão, posso dizê-lo, foi total: Óbidos mais parece um shopping
center colocado num cenário histórico.
Bem sei que em vésperas dos espectáculos religiosos da Semana Santa, o excesso
de turistas e os bandos de crentes, não favorecem a pacatez bucólica da vila, mas
não foi isto que transtornou a minha visita, tanto mais que o chão das ruas atapetado
de cedro, murta, alecrim e rosmaninho, exalava odores magníficos. O que me
revoltou foi o novo desordenamento comercial, a profusão de casas de artigos
turísticos e outras lojas com deploráveis arranjos interiores "ao estilo antigo", e
nos exteriores, tabuletas, anúncios e toda a espécie de kitsch comercial espalhado
pela fachada de cada estabelecimento.
No meio de tudo isto, a que chamam "revitalização económica local", ainda julguei
que alguma estrutura cultural pudesse salvar a impressão que me ia ficando de uma
política autárquica desastrosa. Mas não. A prova-dos-nove foi o novo Museu
Municipal agora instalado no Solar de Santa Maria, substituindo o pequeno mas
precioso antigo museu. Negam-se aqui os saberes museológicos mais elementares,
a ponto de vermos aplicados elementos gráficos de apoio e legendagem com peso
visual equivalente ao das próprias peças em exposição, isto acompanhado de
letterings assustadores.
Pobre Oeste selvático, já nem Óbidos, a sua jóia da coroa, é poupada à ignorância
saloia. Bem podem os cartazes apelar ao voto nesta "maravilha/wonder" de
Portugal... ou talvez baste dizer que o crime contra o património histórico continua
a compensar.
Pintura > Josefa de Óbidos (1630-1684), Portugal
> Cordeiro Pascal, c.1870, Col. Museu de Évora.
[R]
Etiquetas: centros históricos, Josefa d'Óbidos, Óbidos
8 Comentários:
O mais provável é que preservação correcta não dê votos de uma forma proporcional ao seu custo.
Saloios, é isso. O que o malfadado nos deixou. Novos, velhos, crianças, ainda saloios ao fim de tantos anos! Quando a cultura? Sim, porque isto é pior que deixar ao abandono. Como dizia Picasso,que não deixava limpar o seu estúdio, o pó conserva... Estas mentes e "esta pretensa modernidade", inventaram a destruição premeditada...all donkeys! Abçs
Há anos que não visito Óbidos...
A populanização de Óbidos assusta-me, da mesma forma que a algarvização do oeste com os seus campos de golfe, praias privadas e mau, péssimo urbanismo, me faz fugir ao invés de voltar.
Pode ser que seja das Autoestradas - a A8 já é a terceira maior do país em tráfego automóvel, apesar de ter menos de 6 anos - pode ser que seja...
É o desenvolvimento senhores, é o desenvolvimento! Será?
Roteia,
bem escolhida a Josefa e bem escolhido o cordeiro do sacrifício a que estão "votadas" tantas vilas e cidades...
Estive há pouco tempo no norte do país e tive a visão oposta. Em muitas vilas e cidades, vi o cuidado da preservação a par de intervenções modernas, sim, sem o "armar ao pingarelho" que descreves de Óbidos. Mas apesar de tudo a maior catástrofe de gestão urbana continua a ser esta pobre capital, que já nem é limpa. Não deveria isto ser considerado um estado de emergência?
Bolota
A devastação da paisagem urbana portuguesa perpetrada nas últimas décadas é integralmente imputável à dupla constituida por autarcas e construtores civis. É disso que estamos a falar. De crime, portanto. E impune. E altamente recompensado.
Folgo em ver que estás de boa saúde e lúcido como de costume.
Quanto a Óbidos é uma pena, parece uma feira. Estou a pensar voltar lá num momento em que não haja Semana Santa, Feira Medieval ou Feira do Chocolate... Quando será esse momento pacífico?
Visitei esse "pequeno mas precioso museu" há muitos, muito anos e guardo boa recordação da escala dos espaços e de uma certa "aura"... (mas "pode ser saudade"...)
Não sabia do novo museu, mas da última vez que visitei Óbidos, (também há muitos anos e também por alturas da semana santa...) já encontrei uma vila abandona e transformada em museu do kitsch turístico da "idade média" (tipo Walt Disney) para a classe média da capital em passeio saloio de fim-de-semana, e com tabuletas em madeira "chamuscada" a anunciar as tascas...
E Monsaraz, igual...
Triste país de Saloios...
Na igreja matriz de cascais está uma parte considerável do espólio da Josefa de Obidos, cerca de sete grandes telas fantásticas. Quem por lá passou para ver os quadros pode concluir que as condições não são as melhores nem para quem pretende ver, nem para a "saúde" das obras.
Reunir a obra desta pintora num museu em Obidos era uma grande mais-valia para a vila e a Josefa também já merecia um bocadinho de reconhecimento.
rosa
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