terça-feira, fevereiro 21, 2006

DESTERRADO



Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, foi constituido arguido no caso
do chamado "Tunel de Ceuta", tendo já prestado declarações à justiça.
Estivemos no Porto e vimos com os nossos próprios olhos: o túnel desemboca à
distância de um passeio, mesmo em frente da fachada principal do Museu Nacional
Soares dos Reis. Não comentamos aspectos jurídicos, mas consideramos este túnel
um escândalo nacional.

Soares dos Reis (1847-1889), realizou em Roma O Desterrado, em 1872, mas as
invejas e dissabores causados por esta obra, e outros desgostos que rodearam a
carreira do escultor na cidade do Porto, terão ditado o seu suicídio com dois tiros
de pistola. No início da República, em 1911, far-se-ia justiça atribuindo o nome de
Soares dos Reis ao antigo Museu Portuense. O Desterrado seria entretanto
considerado o ícone máximo do próprio museu e uma obra prima da escultura
romântica portuguesa.

Antes de se ter suicidado, Soares dos Reis escrevia numa parede do seu atelier:
“Sou cristão, porém nestas condições a vida para mim é insuportável.
Peço perdão a quem ofendi injustamente,
mas não perdoo a quem me fez mal”.
Se regressasse do além, Soares dos Reis não perdoaria a Rui Rio.

Saudações ultraperiféricas.
[R]

Escultura > Soares dos Reis (1847-1889),
> O Desterrado, 1872, Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
(Fotografia de Teófilo Rego, c.1955).
[R]

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5 Comentários:

Blogger Héliocoptero escreveu...

E que o Rui Rio seja condenado pelo que fez! Já é mais que altura de se começar a punir o populismo barato assente no betão que (quase) tudo justifica em nome de uma noção provinciana de "desenvolvimento".

22 fevereiro, 2006 13:10  
Blogger João Dias escreveu...

Por falar em casos de tribunal, ainda alguém se lembra do Ministro Ambiente que era acusado de favorecimentos usando "em vão" o argumento do interesse público?
Pois é o nosso amigo Luís Nobre Guedes.
Não sei porquê, mas parece que há políticos que quando se vêem metidos em alhadas de índole criminal gozam de um sigilo e respeito extraordinário.

Coincidências com certeza...

22 fevereiro, 2006 22:06  
Anonymous Anónimo escreveu...

João: Supomos que este caso, sendo escandaloso, não terá nada a ver com corrupção. O problema aqui, tem a ver com a exploração eleitoralista de uma obra pública, embora ela prejudique valores culturais do país. É um descarado populismo regionalista que a troco de votos passa por cima do interesse público para proteger um dos ídolos do nosso tempo: o glorioso automovel. Além disso, como se viu nas últimas eleições autárquicas, rende votos afrontar os governantes "de Lisboa".

Sobre a questão que refere, a do ex-ministro do Ambiente (o tal que tinha tempo para presidir ao conselho de administração de mais de trinta empresas), estou de acordo consigo. Talvez a agenda mediática da comunicação social esteja desfasada dos interesses colectivos e, deste modo, protegendo interesses individuais.

23 fevereiro, 2006 01:20  
Blogger João Dias escreveu...

Claro, Roteia, também não creio que seja caso de corrupão, mas quis ressalvar que "certas e determindas" pessoas parecem gozar de algum sigilo sempre que envolvidas em questões mais melindrosas.
Compare-se a exploração do caso Paulo Pedroso e os objectivos inerentes a essa exploração com o cuidado que outros casos de tribunal tiveram...

24 fevereiro, 2006 00:43  
Blogger Sergio Pereira escreveu...

O Túnel de Celta é mais um dos muitos casos de desrespeito as Leis que existem no País. Actualmente o progresso e a necessidade de desenvolvimento são utilizados sempre como desculpas para encobrir as piores Imbecilidades que andam a fazer contra o Património Cultural.
Virou moda, realizarem obras sem os devidos estudos de impactes. Mesmo quando eles existem e são negativos a execução das Obras, elas infelizmente acontecem e são empurradas “com a barriga” até não haver mais possibilidades de retornar ao original.
O Porto actualmente possui dois destes exemplos: O Túnel de Celta e A Avenida dos Aliados.
Porém, o IPPAR também possui uma grande parte da culpa por deixar todo o processo arrastar-se e chegar até onde chegou. É uma instituição pesada, afogada em burocracia (talvez “burro-crática”) e com actuações mais políticas do que culturais.
Cumprimentos.

01 março, 2006 22:10  

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