sábado, abril 05, 2014

NOVO BLOGUE

Mantemos o Ultraperiférico de portas abertas.
Entretanto, reeditamos alguns dos posts numa outra (ultra)periferia. O novo projecto chama-se Xisto. Ver aqui.

quinta-feira, abril 25, 2013

EM ABRIL, CRAVOS MIL











 


 

(agora, a um ano do 40º aniversário da Revolução dos Cravos, reeditamos em
tempos de depressão o post de 2006)  

Eu estive no Chiado na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Era muito novo e como
tantos outros lisboetas saí à rua transgredindo as ordens difundidas pela rádio. Foi
assim que assisti no Largo do Chiado à movimentação das tropas a caminho da sede
da pide na Rua António Maria Cardoso. A certa altura reparei que vinham grupos
de vendedeiras do Mercado da Ribeira a subir a Rua do Alecrim. Traziam cestas à
cabeça, e algumas traziam nos braços molhos de cravos vermelhos. Quando elas
chegaram ao Largo de Camões, no meio de toda aquela efervescência, começaram
a distribuir sanduiches aos soldados e a oferecer-lhes cravos. E vi que eles enfiavam
os cravos nos canos das espingardas. Eram os primeiros cravos da Revolução.
Desci depois para a Rua Garrett que já começava a encher-se de gente. Entre o medo
e a excitação, parei junto da antiga Casa Jerónimo Martins. Um chaimite vindo da
Rua Nova do Almada, passou à minha frente e dirigiu-se para o Largo do Carmo, por
entre a multidão que se aglomerava aclamando os militares. Um homem de cabelos
compridos saltou para cima do tanque e de braços abertos desatou a gritar qualquer
coisa sobre a liberdade. Então, mesmo a meu lado, uma mulher velha, baixinha e
curvada, começou a cantar com voz sumida: Heróis do mar, nobre povo... e de
imediato o hino nacional se espalhou por toda a rua.
(R)

> 39 cravos vermelhos + 3 cravos a ganhar cor para os próximos anos 
(composição fotográfica por Roteia/Ultraperiférico) 

1974
Comemorações da Revolução dos Cravos . Ultraperiférico
2013

quinta-feira, novembro 24, 2011

"Um rumo novo"



“Este é o momento de mobilizar os cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise.
Não podemos assistir impávidos à escalada da anarquia financeira internacional e ao desmantelamento dos estados que colocam em causa a sobrevivência da União Europeia.
A UE acordou tarde para a resolução da crise monetária, financeira e política em que está mergulhada. Porém, sem a resolução política dos problemas europeus, dificilmente Portugal e os outros Estados retomarão o caminho de progresso e coesão social. É preciso encontrar um novo paradigma para a UE.
As correntes trabalhistas, socialistas e sociais-democratas adeptas da 3ª via, bem como a democracia cristã, foram colonizadas na viragem do século pelo situacionismo neo-liberal.
Num momento tão grave como este, é decisivo promover a reconciliação dos cidadãos com a política, clarificar o papel dos poderes públicos e do Estado que deverá estar ao serviço exclusivo do interesse geral.
Os obscuros jogos do capital podem fazer desaparecer a própria democracia, como reconheceu a Igreja. Com efeito, a destruição e o caos que os mercados financeiros mundiais têm produzido nos últimos tempos são inquietantes para a liberdade e a democracia. O recente recurso a governos tecnocratas na Grécia e na Itália exemplifica os perigos que alguns regimes democráticos podem correr na actual emergência. Ora a UE só se pode fazer e refazer assente na legitimidade e na força da soberania popular e do regular funcionamento das instituições democráticas.
Não podemos saudar democraticamente a chamada “rua árabe” e temer as nossas próprias ruas e praças. Até porque há muita gente aflita entre nós: os desempregados desamparados, a velhice digna ameaçada, os trabalhadores cada vez mais precários, a juventude sem perspectivas e empurrada para emigrar. Toda essa multidão de aflitos e de indignados espera uma alternativa inovadora que só a esquerda democrática pode oferecer.
Em termos mais concretos, temos de denunciar a imposição da política de privatizações a efectuar num calendário adverso e que não percebe que certas empresas públicas têm uma importância estratégica fundamental para a soberania. Da mesma maneira, o recuo civilizacional na prestação de serviços públicos essenciais, em particular na saúde, educação, protecção social e dignidade no trabalho é inaceitável. Pugnamos ainda pela defesa do ambiente que tanto tem sido descurado.
Os signatários opõem-se a políticas de austeridade que acrescentem desemprego e recessão, sufocando a recuperação da economia.
Nesse sentido, apelamos à participação política e cívica dos cidadãos que se revêem nestes ideais, e à sua mobilização na construção de um novo paradigma”.
Mário Soares
Isabel Moreira
Joana Amaral Dias
José Medeiros Ferreira
Mário Ruivo
Pedro Adão e Silva
Pedro Delgado Alves
Vasco Vieira de Almeida
Vitor Ramalho
Lisboa, 23 de Novembro de 2011

Fotografia > Helena Almeida (n. 1934), Portugal
> Ouve-me, 1979

quarta-feira, março 30, 2011

NÓS



Últimos dias para ver "nós" de Luísa Ferreira, até 2 de Abril na Galeria Pente 10, em Lisboa.
O projecto "nós", que inclui fotografias realizadas nos últimos cinco anos, apresenta-se como um trabalho em torno da relação, por vezes insólita, do 'nosso' corpo com a natureza. As personagens e a sua presença encenada na multiplicidade dos lugares, nunca nos remete para o retrato. É sempre de paisagem que se trata, mas de paisagem habitada por gente como nós, ou por vezes também pelas marcas e vestígios da presença humana na paisagem. A não perder.

Fotografia > Luísa Ferreira (n. 1961), Portugal
> S/título (série "nós"), 2009.
(click sobre a imagem para ampliar)
[R]

quarta-feira, março 23, 2011



[PF#17] Portugal encavacado.

Eu gosto muito dos passos do coelho. Eu gosto muito das portas do paulo. Eu gosto muito do governo e do desgoverno. E eu tenho muita pena do cavaco quando ele fica encavacado e até quando ele faz de conta que gosta muito de todos os portugueses e que está muito preocupado com a gente e com portugal inteiro. Eu quando for crescido também quero ser como ele, um poço de isenção e neutralidade e sentido de estado e assim. Eu gosto muito mas mesmo muito do cavaco, eu adoro ele.
[Personagem de Fricção]

domingo, fevereiro 13, 2011

GÉRARD


"Queria que as minhas fotografias fossem identificadas e que ao mesmo tempo não significassem nada; que elas transmitissem só uma alegria, um prazer, uma euforia, ou o que eu sinto quando vejo uma grande fotografia, uma espécie de maravilhamento".

Gérard Castello-Lopes

in Gérard Castello-Lopes, 'Perto da vista', perto do coração
(entrevista a GCL por Alexandre Pomar), Expresso Revista, 15 Dez. 1984


Fotografia > Gérard Castello-Lopes (1925-2011), Portugal/França
> (A pedra) Portugal, 1987

sábado, dezembro 18, 2010

[citação 37]
A VIDA




A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes.
O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.

Citação > Fernando Pessoa (1888-1935), Portugal
> in "Livro do Desassossego", por Bernardo Soares, ed. Ática, Lisboa, 1982

Escultura (fragmentos) > Anónimo, Grécia (?)
> Par de olhos, séc. V a.C., bronze, mármore e outras pedras.
Nova Iorque, Metropolitan Museum of Art.

In Memoriam
J.R.L. (1916-1997)
[P]

terça-feira, junho 01, 2010

[citação 36]
O MEU MENINO É D'OIRO



O meu menino é d'oiro
É d'oiro fino
Não façam caso que é pequenino
O meu menino é d'oiro
D'oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.

Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.


Citação/Poesia > José Afonso (1929-1987), Portugal

> O meu menino é d'oiro, in "As Primeiras Canções", 1958

Desenho/Ilustração > Milly Possoz (1888-1968), Portugal
> A alegria de saber, in "O Livro da Segunda Classe", 1958
[P]

quarta-feira, março 10, 2010

À LUZ DA SOMBRA


Lourdes Castro e Manuel Zimbro no Museu de Serralves
.

Esta exposição reúne antologicamente pela primeira vez os trabalhos de Lourdes Castro e de Manuel Zimbro, companheiros e colaboradores na vida e no trabalho ao longo de mais de três décadas.
Lourdes Castro (Madeira, 1930) parte das suas pesquisas sobre a sombra de flores, pessoas e objectos para construir uma obra singular com a qual redefine uma relação da obra de arte com o mundo de que faz parte. Na segunda metade da década de 1970 produz, primeiro com René Bertholo, depois com Manuel Zimbro, um Teatro de Sombras onde junta cenas do quotidiano a outras situações onde o maravilhoso e o fantástico se revelam. Manuel Zimbro (Lisboa, 1944 – Madeira, 2003) apresentou em exposições projectos como “Torrões de Terra” e “História Secreta da Aviação”. Agora, para além destes projectos e das suas colaborações com Lourdes Castro, serão também apresentados pela primeira vez outros trabalhos da sua autoria.
(João Fernandes, texto da exposição)

v. Posts com referências a Lourdes Castro e a Manuel Zimbro.
[R]

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

AS MELHORES IMAGENS


A ilha da Madeira enche telejornais. Na RTP, sábado à noite em directo, João Adelino Faria referia as "melhores imagens" da catástrofe com indisfarçável entusiasmo. Acontece que quaisquer imagens de uma tragédia como a que se abateu sobre os madeirenses, não são nunca as melhores imagens, são sempre as piores.
Serve isto de exemplo para assinalarmos o estado actual do jornalismo televisivo que encara cada tragédia como uma oportunidade para ganhar a guerra das audiências.
[P]

Escultura > Diogo Pires, o Moço, (activo 1511-1535), Portugal
>
São Sebastião, séc. XVI (inícios), Museu de Arte Sacra do Funchal
[R]