domingo, fevereiro 08, 2009

UM "NOVO" MUSEU DE ARTE ANTIGA

Tarde cinzenta e chuvosa de domingo, última oportunidade para ver Rembrandt, no Museu Nacional de Arte Antiga. Enquanto almoçava no agradável bar do museu, estava longe de imaginar o que me esperava para além da bela pequena exposição temporária do mestre flamengo: o prazer de constatar a recente reestruturação das salas de exposição permanente das colecções de Pintura Europeia e de Artes Decorativas Europeias.
Surpreendente: novo percurso museológico, novo conceito museográfico, reorganização das obras por núcleos cronológicos e geográficos, novas leituras da colecção, novas formas de diálogo com o visitante, despojamento e limpeza visual
das vinte e três salas. A intervenção arquitectónica, a cargo da arq.ª Célia Anica,
não foi radical nesta zona do museu localizada no Palácio Alvor, mantendo-se várias
das estruturas de 1994 desenhadas pelo arq.º João Almeida. Já do ponto de vista do conceito museográfico dir-se-ia que estamos perante um novo museu, onde cada
peça encontrou o lugar próprio.

Depois das polémicas em torno do afastamento de Dalila Rodrigues da direcção do MNAA, em 2007 - que assinalámo aqui e aqui -, esperava-se de Paulo Henriques um projecto audacioso e simultâneamente equilibrado. Pouco mais de um ano após a tomada de posse deste discreto director do museu, registe-se a sua capacidade de gestão (em tempos de crise económica) e a qualidade científica e estética das suas propostas.
Aguardemos agora a complexa renovação do edifício anexo ao Palácio Alvor, que possa devolver dignidade aos principais tesouros artísticos da arte portuguesa, nomeadamente retirando da sua desastrada localização actual os Painéis de Nuno Gonçalves. E já agora, porque não, ambicionemos novas aquisições para enriquecer os núcleos artísticos dedicados à influência da cultura portuguesa no mundo. É preciso não esquecer que o núcleo de arte afro-portuguesa está actualmente representado por apenas quatro peças, o que fica muito aquém das responsabilidades históricas do principal museu nacional.

Escultura/Cerâmica > Oficina Della Robia, Florença, Itália
> Medalhão heráldico com as armas de Portugal, séc. XVI (in
MatrizPix)
[R]

4 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Estive recentemente no MNAA e concordo inteiramente com Roteia. O que está feito está bem, e não se esperaria outra coisa de Paulo Henriques. Agora é preciso que a imensidão de salas onde está a arte portuguesa venha a ter o mesmo tratamento, o que não deve ser nada, mas mesmo nada, fácil nem rápido. E a inexistência de uma política de aquisições, permanece um mistério. Em Portugal há rios de dinheiro para construir estádios de futebol que estão "desactivados" e auto-estradas que estão às moscas e TGVs e aeroportos e etc. Cultura? Arte? Nem pensar, o país está em crise, meus senhores!

12 fevereiro, 2009 22:56  
Anonymous Anónimo escreveu...

Pois, é justamente porque o país e o mundo estão em crise, é justamente num momento como este em que os valores não transitórios ou não efémeros (culturais, patrimoniais) marcam a diferença que se torna necessário dedicar-lhes particular atenção e atribuir-lhes novas prioridades.

13 fevereiro, 2009 12:42  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Estão de parabéns, é um facto.

17 fevereiro, 2009 13:58  
Blogger bettips escreveu...

Tinha estado aqui ontem...achei uma delícia o medalhão com verdes e frutos "Bordalo"! Só não disse que a descoberta desse Museu foi uma das minhas paixões tardias em Lx. Ainda bem, pelas notícias que dão, há ventos novos!
Curiosamente, encontrei na Tapada de Mafra esculturas semelhantes às que estão pelo belíssimo jardim do MNAA! (Ah...esse, deixem-no estar, não o higienizem nem modernizem).
Abçs

18 fevereiro, 2009 01:09  

Enviar um comentário

<< Home