sexta-feira, fevereiro 12, 2010

CAMPANHA NEGRA


Sócrates tornou-se o bombo da festa. Entre o indecoroso e o despudorado há jornalistas à direita e à esquerda que já anunciam o fim deste primeiro-ministro para breve. Dizem que há censura, que falta liberdade de imprensa, dizem isto os mesmos jornalistas que estão prontos a proclamar Manuela Moura Guedes como heroína, ou até, quem sabe, um exemplo de imparcialidade jornalística e de resistência à corrupção. Já agora, porque não proclamam o programa "Big Brother", de José Eduardo Moniz, como um exemplo de ética televisiva? Não é verdade que entretenimento e notícia se juntam e confundem nas agendas mediáticas para ganhar audiências e manipular a opinião pública?

Há quase três anos uma manchete do jornal Semanário apresentava em letras gordas: "Tréguas a José Sócrates só vão abrandar durante a presidência da União Europeia". Descrevia esse jornal, um calendário pormenorizado (casos e datas) em que seriam divulgados a conta-gotas os exactos e sucessivos escândalos (já então se mencionava um tal Freeport) envolvendo o primeiro-ministro, familiares (mãe, tios, primos) e amigos seus. Com meses de antecedência, com anos de antecedência, era já possível conhecer o que viria a ser notícia. Dizia-se mesmo, com um descaramento ímpar, que tudo estava devidamente preparado até às eleições, porque era imperioso que Sócrates fosse a votos desgastado. E assim se cumpriu o dito calendário. Mas afinal Sócrates resistiu, voltou a ganhar eleições, e pelos vistos há um novo calendário de ataque.

Mesmo quem não nutre por Sócrates especial simpatia (é o meu caso), e havendo tantos aspectos da política governamental que podiam e deviam ser debatidos ou contestados, não pode deixar de compreender-se que o vale tudo da baixa política (ou do baixo jornalismo) domina os orgãos de informação em Portugal. Sócrates fala em "campanha negra" e, infelizmente, tem razão.

Fotografia > Aaron Siskind (1903-1991), EUA
> Terrors and Pleasures of Levitation, 1954
[R]

11 Comentários:

Anonymous Bala escreveu...

Pois é, Roteia.

Convém não esquecer quem está à frente dos grandes grupos de comunicação social. O 4º poder quer subir no podium e substituir-se a outros. Desde logo, ao poder judicial. Ainda ontem a jornalista Inês Serra Lopes declarava que não via razão para Sócrates e o governo em geral não virem para a comunicação social responder às acusações que lhes são feitas pela...comunicação social, porque toda a gente sabe que os tribunais demoram muito tempo a resolver estas coisas. E assim a quebra do segredo de justiça (e o julgamento em praça pública, digo eu) teriam a virtude de, pelo menos, serem mais eficazes. Dito sem pestanejar e com a anuência da colega entrevistadora.

Judite de Sousa tentou pôr em prática esta nova máxima do jornalismo português, ontem, ao entrevistar o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, mas digamos que a procuradora Judite não tinha preparação e levou um baile confrangedor.

Eu estou a sentir-me asfixiada com estes atentados ao estado de direito, acredita.

12 fevereiro, 2010 18:46  
Anonymous Propranolol escreveu...

Parece que as acusações sobre Sócrates, são graves. Mas, o que dizer, por exemplo, de um tal Rangel, que se serviu do seu lugar de eurodeputado, para denegrir Portugal perante todos os outros membros da UE, movido exclusivamente pela obsessão em ganhar notoriedade e em destruir o governo PS, sem medir consequências, como é tradição no obscuro PSD?
Quer nos órgãos de informação quer nos políticos portugueses, não perpassa o mais leve indício de empenho ou sentido de responsabilidade perante as miseráveis condições de vida dos cidadãos. Ao contrário, utilizam-se todas as artimanhas para distrair a plebe dos gravíssimos problemas do país. Perante esta confrangedora situação, quem tem autoridade para julgar Sócrates?

12 fevereiro, 2010 21:22  
Anonymous L'Oiseau Rare escreveu...

Bem, também não é preciso exagerar!
Em Portugal, nem todos os jornalistas são felícias cabritas, nem toda a imprensa é do baixissimo nível do jornaleco sol, nas suas desesperadas jogadas para ganhar leitores e tentar o impossível: sobreviver.

12 fevereiro, 2010 21:30  
Anonymous Bala escreveu...

L'Oiseau Rare,

Os que não são, são muito raros, não são a norma nem têm coragem para a afrontar intra classe.

Mas podem não ser felícias, temos por onde escolher. Crespos, judites, josés antónios saraivas, josés manuel fernandes, josés miguel tavares. Quanto a jornais, o Sol não está só. Desde o Público - extensão da Casa Civil da Presidência na montagem da notícia que derrubaria o governo, até ao Correio da Manhã. E revistas como a Sábado. E nas televisões, quem tem o tempo de antena para comentário político? Só o Pacheco Pereira, entra em dois programas semanais.

13 fevereiro, 2010 19:55  
Anonymous Anónimo escreveu...

Leram as escutas...? Qual é a dúvida...? Não há nada a investigar...? Nada a esclarecer...?

E nessa lista de jornalistas "a abater", quem mais se pode queimar? Joaquim Vieira...? Henrique Monteiro...? Não podemos deixar nenhum de fora!
É urgente legislar no sentido da obrigatoriedade de um Marcelino em cada redacção.
:)

13 fevereiro, 2010 22:50  
Anonymous Anónimo escreveu...

Anónimo,

Há tudo a esclarecer mas não vejo que esse esclarecimento esteja a ser connseguido por estes métodos.

E se alguém está a ser "queimado", não me parece que sejam os jornalistas...

14 fevereiro, 2010 00:03  
Anonymous Bala escreveu...

O comentário acima era meu. Siu anónimo por engano :)

14 fevereiro, 2010 01:11  
Anonymous Bala escreveu...

Diz Ferreira Fernandes:

‘Do que falamos quando falamos? Já fiz a pergunta várias vezes mas não sou eu que me repito. O país é que é contumaz. Volta não volta, acontece a mistura fatal, um pingo de magistrados num copázio de jornalistas, e o país fica grogue. Não diz nem pensa coisa com coisa. Um dia, um juiz foi buscar um deputado ao Parlamento porque tinha indícios terríveis: o deputado tinha dito "querida" ao seu interlocutor telefónico de voz masculina, logo aquilo cheirava a maricagem e, como se investigava pedofilia, logo o deputado era suspeito. E todos os indícios eram desse quilate. Ora, o deputado falara com a mulher, de voz grossa, de um amigo. Como o juiz nem se deu ao trabalho de relacionar o telefone com o seu proprietário, que era uma proprietária, como os jornalistas fizeram eco ao vazio, como os portugueses viraram baratas tontas, chegámos, quase dez anos depois, ao caso Casa Pia sabendo o mesmo que no início. Nada, embora presumindo muito. Ontem, comprei o Sol. Li as quatro páginas sobre as escutas que me prometiam relatar o polvo governamental sobre jornais e televisão. Mas não estava lá nada sobre o assunto. Não quero dizer que Sócrates não quis dominar a Imprensa. Não digo que o Governo não coma microfones ao pequeno-almoço. Digo é isto: naquela edição do Sol não estava lá nada sobre o assunto. Então, do que falamos?’

15 fevereiro, 2010 12:29  
Blogger bettips escreveu...

Exacto!
Tanto a ver, saber, investigar e os nossos vaidosos numa dança de batuque.
E eu também não sou "grega" nem para lá caminharei. Lamento sermos - nós a sermos - jogados, a nossa consciência a ser jogada como bolas de bilhar.
E também não sei jogar bilhar mas vi jogar - e 35 anos de plurocracia democrática só para uns tantos nomes dão muito forro/razão ao pensamento.
O tal "que não há machado que corte".
Abç

18 fevereiro, 2010 01:51  
Anonymous Bala escreveu...

Cuidado aqui no Ultraperiférico, com o que dizem...
http://blog.fractura.net/trafico-de-influencias/02032010-escaparate-1142

02 março, 2010 13:06  
Anonymous Anónimo escreveu...

Um post de grande lucidez.
CV

07 março, 2010 10:16  

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