terça-feira, janeiro 19, 2010

PAULO HENRIQUES



A surpreendente notícia do afastamento (ou da não recondução) de Paulo Henriques na direcção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), sem qualquer explicação convincente por parte de Gabriela Canavilhas, deixa no ar um enigma, seja qual for a pessoa escolhida para o substituir. Na sua decisão, terá Canavilhas considerado o trabalho meritório que Paulo Henriques desenvolveu nos últimos três anos em condições tão difíceis e em tão curto espaço de tempo? Ou será que justamente por reconhecer esse mérito, Canavilhas pretende colocar Paulo Henriques num lugar de maior responsabilidade?
Conjecturas à parte, a coisa cheira a prepotência política, e ao fim do estado de graça da nova ministra da cultura, em quem se tem depositado alguma expectativa. Porque o cargo de director do maior museu nacional não pode estar sujeito aos ciclos da governação. E duvido que em países onde a tradição museológica tem maior peso, este afastamento "sumário" de uma personalidade reconhecidamente competente fosse validada pela comunidade científica. Mas em Portugal, como de costume, a competência alheia incomoda.
Espera-se agora, depois do erro de "casting" que representou a nomeação de Dalila Rodrigues (cujo cargo foi mais utilizado para sua auto-promoção e ataque político à tutela, do que para benefício da instituição), que não estejamos perante um novo caso de promoção com base na cor política ou em simpatias pessoais. Porque uma coisa é certa: para o desenvolvimento de um projecto museológico coerente num museu com as características do MNAA é necessário que um director permaneça no cargo pelo menos uma década.
Amanhã Gabriela Canavilhas apresentará o plano estratégico "Museus para o século XXI". Veremos então em que é que o "perfil estudioso" e de "excelente conservador" de Paulo Henriques, não é compatível com a nova orientação estratégica para o MNAA.

[adenda 20.01.2010]
Texto esclarecedor no Público de hoje: "Director do Museu Nacional de Arte Antiga afastado por não ter perfil de gestor"
Também no Público: "António Filipe Pimentel deverá ser o novo director do Museu de Arte Antiga"

Pintura > Albrecht Dürer (1471-1528), Alemanha
> São Jerónimo, 1521, Col. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.
[R]

2 Comentários:

Blogger Ricardo António Alves escreveu...

Subscrevo tudo o que diz. Espero que a não recondução de Paulo Henriques signifique a atribuição de maiores responsabilidades. A ministra é uma pessoa muito preparada, e tem-no demonstrado até agora. Esperemos que seja também imune à intrigalhada obscena que se espalha com uma facilidade assustadora.

20 janeiro, 2010 00:45  
Blogger bettips escreveu...

Dei uma vista de olhos na estratégia: "gestão, implementação, penúria" ... saltam logo, como o discurso da situação da cultura neste país - e pela educação, e pela saúde.
Já me tinha ocorrido: o cristal todo entornado, o verniz estalado.
E o dedo na ferida, já o S. Jerónimo o sabia, basta apontar.
Abçs

20 janeiro, 2010 00:57  

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