sexta-feira, abril 25, 2008

REVOLUÇÃO, DE NOVO


1974
Comemorações da Revolução dos Cravos . Ultraperiférico
2008

Impossível não comemorar a Revolução dos Cravos, 34 anos depois. Basta lembrar
que entre 1926 e 1974 o país viveu isolado do mundo, e que durante esse quase
meio século de grandes transformações culturais e sociais, Portugal se distanciou
tragicamente da Europa, como se dela não fizesse parte.
Um balanço dos anos posteriores à Revolução, leva-nos a constatar que, à excepção
das mudanças ditas estruturais resultantes da vivência democrática, persistem na
sociedade portuguesa mentalidades, hábitos e idiossincrasias que contrariam uma
verdadeira condição europeia.
O tempo perdido não se recupera, é certo, mas diagnosticar as fragilidades talvez
contribua para combater a inércia e a mediocridade.
E se outros motivos não houvesse, onde é que já se viu deixar de comemorar uma
revolução feita com flores?

Colagem > Ana Hatherly (n.1929), Portugal
> Da séria As ruas da cidade, 1977, Col. CAM/FCG, Lisboa
[R]

[Adenda]
Impressionante a evocação dos portugueses mortos pela ditadura, no Branco Sujo.
Mas a pergunta é: e os portugueses que ao longo daqueles anos morreram por dentro?

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9 Comentários:

Blogger A Lusitânia escreveu...

Sim, pela lembrança de todos esses que foram morrendo devagar, num país vestido, anos a fio, de cinza e de temor, saí este ano à rua a cantar. Vivam os cravos habitando as nossas mãos.

28 abril, 2008 18:05  
Blogger A Lusitânia escreveu...

P.S: Linda a escolha da Haterly.
Obrigada pela referência ao Branco Sujo. Impressionante a lista.

29 abril, 2008 08:06  
Blogger bettips escreveu...

Belísimo. As palavras bem a propósito e a colagem duma mulher invulgar. Se todos se perguntassem que "abril" demos aos nossos filhos, era tão fácil perceber...parece-me.
Abç

30 abril, 2008 03:31  
Anonymous Anónimo escreveu...

Concordo com Mena e Bettips. Ana Hatherly é uma excelente escolha para um post sobre o 25 de Abril. O que resta desse "dia inicial inteiro e limpo" é talvez muito menos do que seria de esperar. E temos um PR que faz questão de ignorar o carácter simbólico do cravo vermelho na lapela. É de supor que para ele, o 25 de Abril pouco mais é que uma manobra de "esquerdistas".

01 maio, 2008 01:22  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Bom Maio para vós. Que com os cravos nasçam também outras flores.

01 maio, 2008 11:11  
Blogger JQ escreveu...

Olá R., aquela relação de mortos pela ditadura também foi para mim impressionante, mas por serem tão poucos. Isso mesmo: poucos.
Se se deixar de lado as vítimas da guerra colonial (a qual resultou obviamente de opções políticas), pode-se concluir que as pessoas assassinadas por motivos estritamente políticos durante quase 50 anos foram pouco mais de uma centena.
Bastava que fosse um, claro, mas comparando com muitas outras ditaduras e algumas democracias com aspas…

Para não me chamarem nomes feios, preciso ressalvar dois aspectos:
- a coragem dos poucos que arriscaram e trocaram a vida pela defesa dos seus ideais (espécie em vias de extinção);
- a possibilidade de a ditadura ter durado menos tempo caso o nº de mortos tivesse sido escandalosamente superior (o que provavelmente apressaria uma reacção que demorou 48 longos anos a acontecer).

Não sei se alguém terá uma impressão semelhante: em termos gerais e apesar de serem mais velhos, a maior parte das pessoas que conheci, nascidas durante a confusão da 1ª república, é moralmente mais evoluída e costuma ter uma forma de encarar a vida muito mais positiva do que aqueles que nasceram depois nas primeiras décadas da ditadura.

Concluindo: foi realmente mais impressionante a quantidade de pessoas que se deixou morrer por dentro, como referiste.

01 maio, 2008 12:16  
Blogger R.O. escreveu...

Pois, José Quintas, não posso estar mais de acordo contigo.
Há pessoas que "se deixaram morrer" por dentro mas há também outras pessoas que, por terem resistido até aos seus limites, foram assassinadas por dentro, e esse número de pessoas, incomensuravelmente superior, não faz parte das estatísticas.

Uma das coisas que a mim mais impressiona, 3 décadas e tal depois da revolução, é a quantidade de mortos-vivos que permanece em quase todos os sectores da vida portuguesa. Chamo mortos-vivos àqueles que sucumbem ao mais pequeno sinal de ousadia, àqueles para quem o esforço alheio é sempre um alvo a abater, àqueles para quem qualquer pensamento que se exprime contra-a-corrente é sempre uma ameaça.

01 maio, 2008 14:11  
Blogger Aluizio Amorim escreveu...

Salve, Roteia! Migrei para o blogspot e o nome do meu blog também mudou. Agora é Blog do Aluízio Amorim. O link do Ultraperiférico já está lá. Um grande abraço do Aluízio Amorim, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

03 maio, 2008 07:07  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Para vós o «Sorriso Louco das Mães» do Herberto Helder, porque palavras assim não nos deixarão sucumbir.

04 maio, 2008 17:33  

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