terça-feira, setembro 19, 2006

APOCALIPSE



Ainda a propósito do discurso do Papa Bento XVI e das respectivas e inteiramente
previsíveis reacções do mundo islâmico, das duas uma: ou o Papa foi ingénuo e
desconhecia que as suas palavras podiam ter o impacto que tiveram, ou então não
foi ingénuo e, nesse caso, jogou uma cartada táctica cuja intenção ainda não revelou
a sua eficácia.
Quando um Papa se põe a citar um texto medieval capaz de ainda hoje ofender o
mundo islâmico, não vamos considerar que a sua citação foi inocente. Trata-se de
um texto do tempo das cruzadas, quando a Europa se inflamava contra os "infiéis".
Será que este facto pode ter sido esquecido por Sua Santidade?
Não há qualquer tensão religiosa apocalíptica, não há qualquer guerra civilizacional
à vista. O que há, isso sim, é uma perigosa exploração das tensões religiosas através
do sistema mediático, à escala global, como se viu no recente caso dos cartoons
dinamarqueses
.
As guerras fazem-se hoje de outra forma e os sistemas de poder religiosos estão,
como estiveram sempre, na linha da frente, motivando ou servindo de pretexto aos
interesses bélicos.
[P]

Pintura >
Francis Bacon (1909-1992), Grã Bretanha
> Study after Velasquez's Portrait of Pope Innocent X, 1953
[R]

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5 Comentários:

Blogger Luísa R. escreveu...

A Europa pode ser tão auto-crítica, mas não pode ter a liberdade de criticar o fundamentalismo islâmico?

A dita ofensa lava-se com assassinatos?

19 setembro, 2006 04:23  
Anonymous Anónimo escreveu...

A Europa pode e deve ser exigente a propósito de qualquer forma de fundamentalismo. O que a Europa não deve (mas faz) é cair no engodo das lideranças religiosas, e das lideranças políticas que nelas se apoiam, manipulando massas de fiéis, do lado cristão como do lado islâmico.
Por outro lado, a suposta superioridade civilizacional das democracias, sendo formalmente um facto, não pode servir para justificar ingerências em casa alheia.
A liberdade crítica é uma questão artificial, e nisto o Ocidente tem especiais responsabilidades.
Quanto a retaliações, ou lavagens como lhes chama, são factos grotescos, infelizmente frequentes.

19 setembro, 2006 05:02  
Anonymous Anónimo escreveu...

Estou a ler um livro muito interessante - The Templars, escrito por um romancista de uma forma concisa e entusiasmante.
A triste conclusão a que chego é que no médio oriente não parece ter mudado nada desde o princípio dos tempos. Temos fanáticos religiosos judaicos e muçulmanos, temos Francos e ordens monásticas militares e possessões conquistadas aos locais que iam mudando de mãos, temos alianças temporárias entre Francos e facções locais.
Resumindo há mais de 2000 anos que aquilo não é pacífico (antes era a rota de entrada de mercadoria na europa agora é o petróleo).
Não sei se o papa o fez de propósito ou não, mas não me espantava nada que o pessoal do folclore violento tivesse sempre uns quantos funcionário à cata de tudo o que o papa dissesse para poder servir de pretexto para mais umas manifestações fácilmente organizadas.
Os media também adoram todas as oportunidades de mostrar aquelas orquestrações (aos nossos olhos parecem todas a mesma afinal, podiam usar imagens de arquivo), talvez por falta de alternativas locais.

Falando da pintura que é um assunto bem mais interessante, tanto o original de Velasquez como a citação de Bacon são obras maiores da história da pintura. Uma pela forma como através do retrato exterior nos dá a ver um laivo da personalidade do retratado ("troppo vero" terá dito o papa), a outra pela intrepretação das tensões interiores do papa (da igreja ?).

19 setembro, 2006 10:06  
Blogger maria escreveu...

Não sou adepta da teoria da conspiração portanto, para mim, o papa numa sessão numa universidade fez um discurso onde citou uma frase de outro. Por muito que me custe dizê-lo, ele tinha o direito de se expressar sem estar cheio de medo com as reacções no mundo islâmico.E quanto às desculpas, nem pensar...
Se não lhes ligassem tanta importância era melhor,deixá-los espernear.

19 setembro, 2006 19:35  
Anonymous Anónimo escreveu...

Concordo com Mário: feitas as contas as figuras mediáticas, neste caso o papa, integram uma reacção em cadeia de resultados previsíveis.
Quanto a Maria, o que me parece que dá que pensar é o seguinte: porque é que as ditas figuras mediáticas, papa ou não papa, só dizem ou fazem certas coisas se houver câmaras de televisão por perto? Maria fala de teoria da conspiração, mas eu creio que se trata apenas de constatação de factos. E afinal somos nós cidadãos, cá como lá, quem costuma pagar os erros que não cometemos. Muitas vezes com a própria vida.

21 setembro, 2006 15:44  

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