terça-feira, outubro 10, 2006

SEXO?



Weston de novo, a propósito de um comentário de José Quintas no post anterior
(O pimento de Weston). Creio que podemos encontrar respostas nas palavras do
fotógrafo José M. Rodrigues, na mesma caixa de comentários, e nos excertos do
diário de Edward Weston, transcritos em adenda no post. Ainda assim, uma nova
questão: O que têm em comum o pimento e este Nude?

Fotografia > Edward Weston (1886-1958), EUA
> Nude, 1936, Col. MoMA, NY
[R]

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16 Comentários:

Blogger Rosa escreveu...

Essa é uma pergunta de difícil resposta. Apesar de todas as evidentes semelhanças, a verdade é que para mim não existe muito em comum entre as duas fotografias, provocam-me de formas completamente diferentes.
rosa

10 outubro, 2006 15:55  
Blogger Aldina Duarte escreveu...

São seres vivos que se confundem com naturezas mortas quando reduzidos a duas dimensões, a de quem fotografa e a de quem olha a fotografia!?

Até sempre

10 outubro, 2006 16:11  
Anonymous Anónimo escreveu...

Roteia, como raio clarificar esta coisa do «sexo versus sensualidade» sem me alongar demasiado em explicações sobre o meu comentário que referiste? Respondendo: semântica + fonética + convenções estéticas e morais?

11 outubro, 2006 00:12  
Anonymous Anónimo escreveu...

Ver refere que as duas imagens a provocam de modo diferente, por isso me ocorre colocar uma outra questão:
se Weston tivesse representado a cores, tanto o pimento como o nú, o impacto e as sensações que suscitam no observador, seriam as mesmas ?
Diz também que para si não existe muito em comum entre as duas imagens. Então coloco ainda outra questão: será que para o autor não existe entre elas tudo em comum?

11 outubro, 2006 01:20  
Anonymous Anónimo escreveu...

Aldina, creio que Weston, quando fala de ver "através dos olhos, não com eles", está a colocar-se, ele próprio, na posição do observador.

11 outubro, 2006 01:51  
Anonymous Anónimo escreveu...

(que se lixe; acabei mesmo por alongar esta coisa:)
realmente, a palavra «sexo» talvez tenha sido demasiado forte para sintetizar a intensidade com que bem caracterizaste a fotografia do pimento. talvez por isso também tenha utilizado logo a seguir no mesmo comentário a palavra «sensualidade». Facto é que a palavra «sexo», de tão gasta, ganhou para algumas pessoas uma conotação quase negativa – soa a coisa de brutos. Coitada da palavra, só tem 2 sílabas e a 2ª até acaba em [u], uma vogal gutural (+2 «us»: ), usada muitas vezes para arruaçar...
«sensualidade» é bem mais elegante. apetece dizê-la devagar. o som estende-se às curvas, em ondas, talvez.

A diferença entre ambos os termos poderia ser utilizada para distinguir as (minhas) impressões causadas por ambas as fotografias: encontro mais sensualidade na deste post, talvez porque a figura é humana, porque o corpo em causa se enquadra nos padrões actuais de beleza feminina e haverá, julgo, alguma “encenação”, no mínimo, uma pose. Ou seja, se esquecermos o modo como a maior parte dos felinos se movem e o facto de alguns humanos subestimarem o seu corpo ao ponto de ficarem desprovidos de sensualidade, esta estará quase sempre mais próxima do humano, enquanto que o sexo será mais facilmente associado ao mundo “natural”, enfim, primitivo.

Dito isto, continua a ser mais intensa a impressão causada por aquele pimento tão particular(izado pelo trabalho de Weston). Acho que posso fazer uma associação de ideias com alguma música. Se esta for demasiado trabalhada, demasiado ”produzida”, costuma perder intensidade quando comparada com sonoridades mais simples, mais “naturais”.
Claro que aquele pimento envolveu, como referiste na adenda, pelo menos um mês de esforço por parte de Weston. Ou seja, houve alguma artificialidade, melhor, artifício, para conseguir aquele resultado. E, à 1ª vista, maior artifícialidade existirá na foto desta mulher nua, uma vez que a sua posição (pose?), será sempre menos natural do que a do pimento, talvez porque, ao contrário deste, a mulher tem consciência do seu corpo, de si mesma.

No entanto, a foto do pimento implica, creio, a utilização de maior artíficio por parte do espectador. Na adenda ao post de baixo, Weston foi, para mim, bem claro quando referiu «revelação», «realidade profunda». O facto de o sexo ou a sensualidade não serem tão evidentes no pimento como na mulher nua, quase que obrigam o espectador a um exercício de transformação. como se as formas daquele pimento acordassem, dentro de cada um, outras formas idealizadas, no mínimo, memórias de sensações que costumamos associar a esse acto tão primordial como é o sexo. A sensualidade, julgo, terá aparecido depois, com o desenvolvimento e gradual sofisticação das sinapses mentais e sociais.
Daí que, à pergunta do título do post, só posso responder nim e, depois, sim.

(não sei bem se foi isto que perguntaste no título do post; de qualquer modo, foi o que saiu)



sobre a 1ª questão lançada por Propranolol: para não repetir o que já disse sobre formas idealizadas e o despertar de memórias primitivas, tenho quase a certeza que as cores não produziriam o mesmo efeito.
ref. 2ª questão: para Weston, não posso saber. tudo me leva a pensar que sim. Têm ambas muito em comum.

11 outubro, 2006 01:58  
Blogger Rosa escreveu...

propranolol,
A cor nestas fotografias seria um grande "atrevimento", claro que o impacto seria outro, a cor tem o poder imenso de controlar os nossos sentidos e de nos distrair do essencial.
Para o autor creio que fotografar o pimento ou a modelo terá tido os mesmos desafios e motivações.
rosa

11 outubro, 2006 08:48  
Blogger maria escreveu...

Tudo e quase nada. Mas é o meu conhecimento do objecto fotografado em Nude que me faz achar belo o pimento, senão apenas o acharia bom para cozinhar.

11 outubro, 2006 10:17  
Anonymous Anónimo escreveu...

Maria:
Uma coisa é o que uma imagem tem para nos dizer, outra coisa é o que nós temos para dizer sobre essa imagem.
Se uma obra de arte está diante dos nossos olhos é porque ela é aberta a todas as possibilidades de abordagem ou de discurso. Porém, o discurso próprio da obra, está lá para quem o quiser escutar ou ver. Ou como diriam os fenomenologistas, é o olho da obra que observa o observador.

11 outubro, 2006 12:21  
Anonymous Anónimo escreveu...

José Quintas:
Não posso deixar de agradecer os teus comentários, de facto estimulantes. Mas vamos a isto:

O sexo está em toda a parte. Apenas antigos e modernos puritanismos o pretenderiam negar. Está presente na pulsão do artista, está presente na natureza, está presente na representação (ou "apresentação", como Weston preferia dizer). Do mesmo modo, masculino e feminino estão também por toda a parte e não são assexuados. Sobre isto estamos entendidos, creio.

Agora sobre sexo e arte,
explicitamente sobre sexo, trouxe a interrogação a este post, a partir do teu comentário, por duas razões de ordem estética:
1. Porque o pimento e o nú revelam as mesmas preocupações formais, idêntica intensionalidade plástica. Sem ter chegado áquele específico e magistral pimento, penso que Weston jamais teria chegado a este específico e sublime nú.
2. Porque quando um artista se coloca perante um modelo nú, como perante um pimento, é forçado a despojar-se do sexo nele(s) contido, para se concentrar totalmente na articulação das formas e dos eixos, nos volumes, na luz. Caso contrário, o resultado poderá ser frouxo, ou então enquadrar-se numa categoria artística deliberadamente erótica (que aliás, pontualmente também existe em certas obras de Weston).

A minha reposta a Sexo?:
Nenhum sexo (exceptuando o tal que está por toda a parte). E nisto o pimento e o nú são idênticos, tendo também em comum o esforço de abstracção formal que os torna tão particularmente intensos e tão particularmente chegados. Que isto ocorra com fotografias, dada a natureza dos mecanismos fotográficos e a sua sujeição ao "mundo visivel", é uma coisa verdadeiramente notável.

Relativamente ao teu 2º comentário, gostaria de dizer mais, mas é matéria vasta para esta caixinha. Abraço.

(este comentário foi republicado devido a gralha anterior)

11 outubro, 2006 12:40  
Blogger Sergio Pereira escreveu...

Ambos são uma forma de linguagem.
Os dois possuem curvas, sensualidade e calor.

11 outubro, 2006 12:42  
Anonymous Anónimo escreveu...

"É o olho da obra que observa o observador". Disto não vou esquecer-me.
Quanto ao nú e ao pimento, o que os liga irremediavelmente é a beleza. E nem sempre estamos confortáveis perante ela.

11 outubro, 2006 14:37  
Anonymous Anónimo escreveu...

São ambas esculturas, o pimento e a mulher. Acho que o pimento sugere maior sensualidade do que a mulher que foi tratada como uma forma arquitectónica, deixando em segundo plano as suas potênciais qualidades eróticas.

11 outubro, 2006 15:59  
Anonymous Anónimo escreveu...

Roteia, concordo p/completo quando dizes “Que isto ocorra com fotografias, dada a natureza dos mecanismos fotográficos e a sua sujeição ao “mundo visivel”, é uma coisa verdadeiramente notável”. Também concordo com Mário quando compara as duas fotografias a esculturas.

restam 2 dúvidas:

“Sem ter chegado áquele específico e magistral pimento, penso que Weston jamais teria chegado a este específico e sublime nú”

como referido nos posts, o pimento é de 1930 e o nú de 1936, mas será que não poderia ter sido ao contrário? Não poderia Weston, mesmo com um objectivo semelhante, ter partido de um corpo humano, onde as formas são mais evidentes, até atingir uma maior abstracção inerente àquele legume? creio que não se pode ter a certeza

“Porque quando um artista se coloca perante um modelo nú, como perante um pimento, é forçado a despojar-se do sexo nele(s) contido, para se concentrar totalmente na articulação das formas e dos eixos, nos volumes, na luz...”

+1x, quem pode garantir que Weston, nos intervalos dos clicks na sua máquina, não deu uns valentes beijos na modelo e no pimento? (esquece p.f. esta pergunta, foi só p/disparatar)

12 outubro, 2006 00:20  
Anonymous Anónimo escreveu...

José Quintas:
As tuas dúvidas, estão em parte respondidas no diário de Weston. Não são meros palpites meus as frases que transcreveste: há estudos, documentos e, claro, há as imagens sobre as quais se pode especular muito ou pouco.
De qualquer modo, quanto à primeira dúvida, o próprio Weston escreveu poucos dias depois de imprimir, que este pimento foi "o culminar de um trabalho", "o absoluto", sendo certo que "ver através dos olhos" o corpo do pimento terá implicado ter visto antes muitos outros corpos (incluindo o corpo humano que, como alguém disse, é "a medida de todas as coisas").
Quanto à frase sobre o modelo nú, falo por experiência própria. A experiência relatada por outros confirma o que digo.
A última questão (não me parece nenhum disparate!): diz-se, de facto, que Weston comia muitos dos seus modelos, pimentos ou mulheres. Não creio que isto tenha acrescentado sexo às obras, mas seguramente acrescentou-lhes intimidade, coisa que reconhecemos ser veículo potencial de universalidade.

12 outubro, 2006 03:49  
Blogger bettips escreveu...

A doçura das linhas sinuosas, o que nos apetece acariciar. Ambas as fotos nos dizem, de modos diferentes, como pode ser terno um olhar que procura. Olhar de artista. Não pediremos a políticos que nos indiquem o caminho; antes a todas as artes que no-lo iluminem. Abç

14 outubro, 2006 18:15  

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