segunda-feira, janeiro 25, 2010

PAULO HENRIQUES (2)



Que conclusões tirar do recente episódio em que Paulo Henriques foi afastado da direcção do MNAA? Tudo leva a crer que se tratou de um processo de afirmação política de Gabriela Canavilhas, visto que não se descortina qual a premência em divulgar uma decisão polémica, exactamente na véspera da apresentação do plano estratégico para os museus. A encenação pública deste caso, que envolveu até o atropelo de algumas regras de cortesia para com Paulo Henriques, fica desde já como marca pouco dignificante de um estilo enviesado de exercício do poder.
E se a ministra pretendeu obter uma maior visibilidade para o seu plano estratégico e simultâneamente criar algum suspense em torno do nome do novo director, António Filipe Pimentel, ela acabou justamente por desviar a atenção mediática do que era essencial. O próprio Pimentel, promovido a rosto da mudança, resumiu as coisas com uma expressão sintomática: "ecce homo".
Quem por estes dias voltar a percorrer as salas do MNAA terá oportunidade de verificar o trabalho de valorização museológica já concluído por Paulo Henriques nos sectores de arte estrangeira, trabalho que pelo menos para já, não será continuado nas galerias de pintura e escultura portuguesa, entretanto encerradas para reformulação após a exposição Encompassing the Globe.

Vale também a pena referir o modo como os orgãos de informação continuam a tratar aspectos essenciais da vida cultural do país: faz-se notícia apenas do que pode parecer polémico e pouco mais. Depois da apresentação do plano estratégico Museus para o século XXI, os telejornais esqueceram o assunto. No dia seguinte a imprensa escrita limitava-se a pequenas sínteses. E no entanto, este plano estratégico é um documento importante que merece reflexão e debate público. O jornalismo obcecado com a actividade desportiva ou centrado na exploração da desgraça e nos escândalos de ocasião, não sabe nem quer saber das suas responsabilidades culturais, nem do contributo que lhe caberia para reduzir o divórcio existente entre os portugueses e o património artístico do país.

Pintura > Albrecht Dürer (1471-1528), Alemanha
> São Jerónimo (pormenor), 1521, Col. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.
[R]

1 Comentários:

Blogger maybe escreveu...

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08 fevereiro, 2010 10:23  

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