terça-feira, dezembro 16, 2008

PARQUE DOS MILHÕES



Por razões profissionais, sou semanalmente constrangido à penosa travessia da parafernália de gaiolas de betão em que o Parque Expo se tornou e a que o prestigiado arquitecto Manuel Graça Dias já se referiu como sendo um dos lugares mais feios do mundo. Concordamos! A Expo 98, depois de nos dar a ver a extraordinária beleza daquela margem do Tejo, rapidamente abriu caminho para a descoberta de um filão que parece não ter fim. Na altura, foi dito até à náusea, que o aproveitamento daquele espaço para construção "servia os interesses nacionais". Há muito que sabemos o que significa "interesses nacionais". É notável a imaginação e rapidez com que ali se vão descobrindo novas nesgas de terreno onde estaleiros e torres de cimento medram como cogumelos. Escritórios, serviços, habitação. E condomínios privados, pois claro. Um deles ostenta o nome em toda a extensão da fachada: metrocity. Atrocity, diria eu. Quando os semáforos me obrigam a parar, dou comigo a pensar se não existirão por aí arquitectos do sexo feminino. E câmaras municipais e empresas de construção civil do sexo feminino. E dou comigo a pensar se todo aquele mostruário fálico seria o que é, se tivesse sido desenhado por arquitectas.
[P]

3 Comentários:

Blogger bettips escreveu...

Não fui à Expo 98.
Passei lá 2/3 anos mais tarde, a fluir o olhar nas avenidas e no rio.
Há 5/6, também de passagem.
Hoje só a vejo de longe e por alto, constrangida. Será que a ganância tudo consegue transformar, em mau, em feio, em atrocidade? Não sei se "arquitectas" o fariam melhor, sinceramente não creio. Perdeu-se, uma vez mais, a oportunidade de construir de raiz, um novo conceito de cidade. Em nome do dinheiro/lucro, capital/liberalismo
chamem-lhe o que quiserem: é de muito mau gosto. Diria mesmo "civilização selvagem" esta que nos deixam. Nem macho nem fêmea.
Abçs

17 dezembro, 2008 15:27  
Anonymous Anónimo escreveu...

Bettips,
Na generalidade concordo consigo. A desordem urbanística do parque-dormitório das nações, obedece certamente a interesses indiferentes ao bem estar dos habitantes. E que se limitam a repetir o padrão bem português de desdém e inépcia perante a estética, a arte, a beleza.
Mantenho a pergunta: porque será que não existe arquitectura assinada por mulheres?
E se uma arquitecta tivesse sido chamada a desenhar aquele espaço,a concepção poderia ter sido diferente?
E por outro lado, será que 'verdadeiros' arquitectos, que os há, conhecidos e respeitados, participariam naquela salganhada de torres avulsas, aperaltadas e engalanadas em exibicionismo fálico?
São simples perguntas, Bettips, nada mais que isso.

19 dezembro, 2008 01:37  
Blogger bettips escreveu...

Um grande abraço à equipa.
À clarividência que aqui encontro, poesia e prosa, pintura ou desenho de palavra.
Vamo-nos pondo perguntas...
Boas Festas no (quase im)possível turbilhão de viver!

22 dezembro, 2008 22:24  

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