sexta-feira, julho 25, 2008

GALIZA



25 de Julho, Dia da Pátria Galega:

Manuel Rivas, poeta e ensaísta, refere-se-lhe assim:

"Na alta Idade Média, a Galiza é conhecida como Jacobusland, o País de Santiago.
A boa estrela de Compostela, que começou quando no séc. IX uma assembleia de
clérigos e nobres, presidida pelo rei Afonso II, ratificou a invenção do sepulcro
apostólico, brilha agora por três motivos simbólicos, não conciliáveis para todos:
cidade santa da Cristandade, santuário do Padroeiro de Espanha e sanctasanctórum
do nacionalismo galego, com o seu centro de espiritualidade laica no Panteão dos
Galegos Ilustres, onde jazem Rosalía de Castro e Castelao. Estas três vontades, ou
outras paralelas como a de assistir à feira de gado que tanto agradava a Valle-Inclán
ou os fogos de pirotecnia, convocam milhares de pessoas a Santiago no dia
25 de Julho de cada ano. Louros peregrinos que chegam do centro da Europa de
avião, mas também a pé, a cavalo ou em bicicleta pelo velho Caminho; políticos de
fraque ou militares com o peito repleto de condecorações, que se dirigem à catedral
para assistir à Oferenda ao Apóstolo; manifestantes nacionalistas com uma colorida
simbologia entre céltica e marxista que celebram o Día da patria galega;
e camponeses e pecuários que alimentam o substracto agrário de qualquer grande
festa na Galiza. Com a indiferença das camadas urbanas estandardizadas que nesse
dia peregrinam até às praias, Compostela oferece no 25 de Julho um espectáculo
único, como se o complicado puzzle social galego se recompusesse num mosaico de
costumes, num grande estúdio cinematográfico. Já me encontrei com veneráveis
galeguistas agnósticos que comparecem todos os anos em Compostela com uma
constância religiosa, e a quem apenas a prisão privou desse acto de fé. Mesmo nos
piores anos do franquismo se celebrava nas catacumbas esse Dia com uma cobertura
religiosa, a chamada Misa de Rosalía."

Texto > Manuel Rivas (n.1957), Galiza
> in
Galicia, el bonsái atlántico, 1994, ed. El País, S.A./Aguilar
> traduzido a partir do texto em castelhano.

Pintura > Alfonso Castelao (1886-1950), Galiza
> O neno das pinhas, c.1926, aguarela. Museu de Pontevedra
[P]

3 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

1 – Obrigada por esta linda lembrança a Galiza.
2 – Uma tradução com alma e coração. PARABÉNS!
3 – Uma prenda:

DEITADO FRENTE AO MAR
Lingoa proletaria do meu pobo,
eu fáloa porque sí, porque me gosta,
porque me peta e quero e dame a gaña;
porque me sai de dentro, alá do fondo
dunha tristura aceda que me abrangue
ao ver tantos patufos desleigados,
pequenos mequetrefes sin raíces
que ao pór a garabata xa nan saben
afirmarse no amor dos devanceiros,
falar a fala nai,
a fala dos abós que temos mortos,
e ser, co rostro erguido,
mariñeiros, labregos do lingoaxe,
remo i arado, proa e rella sempre.

Eu fáloa porque sí, porque me gosta
e quero estar cos meus, coa xente miña,
perto dos homes bos que sofren longo
unha historia contada noutra lingoa.
Non falo pra os soberbios,
nan falo pra os ruis e poderosos,
nan falo pra os finchados,
nan falo pra os valeiros,
non falo pra os estúpidos,
que falo pra os que agoantan rexamente
mentiras e inxusticias de cotío;
pra os que súan e choran
un pranto cotidián de volvoretas,
de lume e vento sobre os ollos núos.
Eu non podo arredar as miñas verbas
de tódolos que sofren neste mundo.
E ti vives no mundo, terra miña,
berce da miña estirpe,
Galicia, dóce mágoa das Españas,
deitada rente ao mar, ise camiño...

26 julho, 2008 02:00  
Anonymous Anónimo escreveu...

Bom...

1 - Anónimo = Pilar

2 - Autor do poema: Celso Emilio Ferreiro (1912-1979)

3 - Título da obra, de onde tirei o poema: é pedir demasiado.

Beijinhos galaico-portuguêses.

26 julho, 2008 02:30  
Anonymous Anónimo escreveu...

Pilar,

1.Já sabia.
2.Já sabia.
3.Do livro "Longa noite de pedra", 1962.

Obrigado pelo comentário.
Beijinhos luso-galaicos.
(Propranolol e Ultraperiféricos-em-geral)

26 julho, 2008 03:19  

Enviar um comentário

<< Home