CONTACTO
Não sei se deva chamar-se cedência ortográfica ao acordo de que tanto se fala.
Não entendo bem para que serve. É coisa cultural, diz-se. É só para eliminar
da língua o supérfluo, visto que o acordo não inclui alterações de sintaxe nem
de pronúncia, apenas de ortografia. Sim, mas... se em lugar de acção, direcção,
protecção, adopção, passamos a escrever ação, direção, proteção, adoção,
a tendência não será para ler a-ção, dir-ção, pru-teção, adu-ção? Falta saber
se corrector passa a corretor, nesse caso, como o corretor da Bolsa tem o direito
de corrigir, lemos que o corretor é corretor.
E como as palavras graves ou paroxítonas deixam de levar acento, passa a
escrever-se, por exemplo, boia em vez de bóia, e como a bóia até boia, lemos
que a boia boia.
E como os cidadãos não têm voto nesta matéria, resta-nos ceder com tacto
ao acordo, ou então aceder com tato à cedência. Contato com tato. Será?
[P]
Fotografia > Hiroshi Sugimoto (n.1948), Japão
> North Atlantic Sea, 1996
[R]
Não sei se deva chamar-se cedência ortográfica ao acordo de que tanto se fala.
Não entendo bem para que serve. É coisa cultural, diz-se. É só para eliminar
da língua o supérfluo, visto que o acordo não inclui alterações de sintaxe nem
de pronúncia, apenas de ortografia. Sim, mas... se em lugar de acção, direcção,
protecção, adopção, passamos a escrever ação, direção, proteção, adoção,
a tendência não será para ler a-ção, dir-ção, pru-teção, adu-ção? Falta saber
se corrector passa a corretor, nesse caso, como o corretor da Bolsa tem o direito
de corrigir, lemos que o corretor é corretor.
E como as palavras graves ou paroxítonas deixam de levar acento, passa a
escrever-se, por exemplo, boia em vez de bóia, e como a bóia até boia, lemos
que a boia boia.
E como os cidadãos não têm voto nesta matéria, resta-nos ceder com tacto
ao acordo, ou então aceder com tato à cedência. Contato com tato. Será?
[P]
Fotografia > Hiroshi Sugimoto (n.1948), Japão
> North Atlantic Sea, 1996
[R]
13 Comentários:
Propranolol,
Muito bem visto. Com o uso, estas alterações até podem derivar numa pronúncia que por sua vez obrigará a uma rectificação (perdão, retificação)ortográfica mais profunda...quem sabe? A língua dos gabinetes parece ser mais dinâmica que a dos povos!
Mas não nos preocupemos, porque com estas "suntuosas" alterações, o mercado brasileiro escancarará as suas portas às obras portuguesas. É um fato. Não...definitivamente não, este fato não me entra bem - até compreendo que não faça confusão lá do outro lado do Atlântico, onde aquilo que se veste é um terno, mas aqui???
Enfim, podemos sempre não ceder, nem com tacto nem com tato, e recusarmo-nos "perentoriamente" à "receção" ´prática das alterações, isto é, passarmos a dar erros ortográficos...Que tal?
Atentemos ainda no seguinte exemplo(confirmei com consulta do próprio acordo): a frase "Joana pára para passar a mão pelo pêlo do cão" (passe alguma cacofonia)
Ficamos com: "Joana para para passar a mão pelo pelo do cão".
(!)
A ler vamos...!
Convite para visitar a minha nova morada da poesia.
Até sempre
Ceder ... sempre ceder, esquecendo que cair na simplificação é empobrecer!
Vá, não sejam mauzinhos... Há que proteger o povo português. É que ainda andam para aí à solta uns laivos de identidade nacional... Que perigo.
Bala,
Não me parece má ideia que passemos a dar erros ortográficos, sempre é uma forma de nos divertirmos enquanto o grupo restrito dos gabinetes discute as perspetivas dos suntuosos negócios que se desenham no belo horizonte da cedência ortográfica. Grupo restrito de fato, seleto e selecto, ternurento quiçá terno em seu terno e seu fato.
Obrigado Aldina, a ler fomos...a sua nova morada de poesia. A poesia felizmente é sempre poesia.
Mena,
Podemos sempre seguir a sugestão de Bala: dar erros ortográficos e pronto.
Urraca,
Nós não somos mauzinhos. Até já andamos a treinar para nos desabituarmos de pedir uma 'bica' ao balcão das cofixope, e passarmos a pedir um 'cafézinho', que é mais brasileiro e é mais fashion.
Roteia, a Bala é mesmo certeira.
Vamos aos erros de "fato"!
Cá por mim, erro - ou seja érro para que se sublinhe o presente indicativo meu, porque de facto não me serve o fato. Como diz Bala e bem a propósito. Mais fazem meia dúzia de professores nos Palops cheios de mosquitos !ups! que 390 literatos em gabinete. Mas chateia-me acordar com VGM, salvo seja, lá isso chateia! Os veículos da lingua são tantas coisas que reduzi-los a "2 pontos percentuais" é chalaça! Que venha a abrangência que a gente aprende, somos uns fiúzas para as linguas...
E recordo que no início das telenovelas qualquer gajo era "um jagunço": fiquemo-nos a ver o resultado em vénias, de tanto e profícuo reino, ou seja, mercado!
Abçs
Bettips,
Mercado é, com certeza. Vénias, claro, essa exímia arte nacional, sempre lesta, sobretudo se houver uns negociozitos a acenar aos do costume. Enquanto isso, doutas cabeças explanam eruditos argumentos a favor da cedência, desta e de tantas outras. A bem da nação, evidentemente.
Podemos sempre vingar-nos dando luxuosos erros ortográficos. Suntuosamente, como diz Bala.
a minha língua é MINHA.
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