segunda-feira, julho 16, 2007

ALENTEJO CONTEMPORÂNEO



Um Verão quente para as artes visuais contemporâneas, no campo da museologia:
depois de Lisboa, com a abertura do Museu Colecção Berardo, a 25 de Junho, chegou
agora a vez do Alentejo, onde no espaço de uma semana inauguraram duas novas
estruturas museológicas, o Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE)
e o museu da Fundação António Prates (FAP), respectivamente nos dias 6 e 13
de Julho, ambas resultantes de iniciatiativas de coleccionadores privados - António
Cachola
, em Elvas, e António Prates, em Ponte de Sôr - empresários que
realizaram contratos de parceria com os poderes autárquicos das duas cidades.
Sendo o Alentejo, reconhecidamente, uma das regiões do país economicamente mais
deprimidas, é preciso sublinhar o esforço que representa a criação destes museus,
tanto mais que nenhuma das três capitais de distrito alentejanas - Portalegre, Évora,
Beja - cidades com outro peso patrimonial, e também outras responsabilidades
culturais, possui por enquanto estruturas congéneres.
Devemos pois saudar a ousadia destes projectos pioneiros, relevantes no âmbito das
relações culturais transfronteiriças e na revitalização do interior sul do país, pese
embora algumas insuficiências de programa e conteúdos museológicos, bem como
lacunas no campo da divulgação, patentes por exemplo na página web do MACE,
integrada no site da autarquia
(sem design condigno, nem documentação iconográfica
da colecção, e com textos apenas em português), ou no facto de não ter sido ainda
lançado um site da FAP, entre outros aspectos que os responsáveis procurarão
certamente corrigir.

Não faltam boas surpresas no MACE, que visitámos no último fim-de-semana:
Desde logo, somos recebidos por funcionários afáveis e competentes, o que não é
coisa menor neste tipo de instituições. Outra surpresa, é a excelente intervenção
arquitectónica nos espaços interiores do antigo Hospital da Misericórdia de Elvas,
núcleo principal do museu, cujo projecto foi coordenado pelo arquitecto Pedro
Reis
, com a participação dos designers Henrique Cayatte e Filipe Alarcão.
O diálogo entre o património do passado e as linguagens artísticas contemporâneas
é neste museu um dos aspectos mais aliciantes, também favorecido pela sua
localização na zona mais nobre do centro histórico, próximo da praça da Catedral.
Todavia, tanto o edifício como a sua localização constituem as principais limitações
do museu, devido ao insuficiente espaço de que dispõe, havendo que recorrer a
núcleos externos, complementares, que ampliem a actual capacidade expositiva.
Quanto às obras da Colecção Cachola seleccionadas para a actual montagem, há que
referir a presença predominante de novos artistas a par de outros já consagrados,
estando ainda ausentes vários nomes de referência no contexto da arte portuguesa
das últimas décadas. É de destacar, por fim, a presença de instalações e peças de
grande porte, como A culpa não é minha (2003), de João Pedro Vale, Expectativa
de uma Paisagem de Acontecimentos
(2007), de Fernanda Fragateiro, ou a
emblemática A Noiva (2001), de Joana Vasconcelos, entre outras peças que
confirmam a intenção pública da colecção.

[Adenda > 18.07.2007]
Sobre o MACE, um texto crítico a não perder, no blog de Alexandre Pomar.

[Adenda > 20.07.2007]
O blog Fundação António Prates, foi lançado hoje mesmo. (http://fundacaoantonioprates.blogspot.com) .

Objecto/Instalação > Joana Vasconcelos (n.1971), Portugal
> A Noiva, 2001. Col. António Cachola/MACE, Elvas
(peça constituída por tampões OB,
apresentada na Bienal de Veneza 2005)
[R]

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7 Comentários:

Blogger A Lusitânia escreveu...

Parabéns, de novo, pelo vosso comentário com que me identifico genericamente. Pena é a falta de divulgação, concordo, tanto mais que, como bem o dizem, é de louvar que dois municípios interiores tenham conseguido levar a cabo projectos de Arte Contemporânea, quando em Évora, à excepção do trabalho da Fundação Eugénio de Almeida e das suas exposições temporárias, a contemporaneidade continue adiada e o seu museu há anos apenas em "ideia".

17 julho, 2007 11:14  
Anonymous Anónimo escreveu...

Mena:
Obrigado. É incompreensível que o MACE e a FAP, ainda antes das respectivas inaugurações, não tenham lançado os seus sites autónomos, com grafismo e informação adequados. Isso deve-se, possivelmente, a erros estratégicos, não a problemas financeiras, porque os custos de criação e manutenção de um site são irrelevantes. De qualquer modo, os museus estão lá, felizmente, "de pedra e cal", e isso é motivo para que felicitemos os seus responsáveis.
De Évora, falaremos em breve.

17 julho, 2007 12:10  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Pois bem gostaria que se dedicassem a Évora ...pois para mim é um pouco incompreensível esta ausência, quando parece até haver colecção ! E mesmo, caso possam, que reflectissem um pouco sobre as escolhas de "arte pública". Pois, Évora ...não é uma cidade fácil... esta cidade que foi de reis e de Inquisição. Mas isso, bom ...um dia tb. eu lhe foi dedicar uma reflexão.

17 julho, 2007 20:39  
Anonymous Anónimo escreveu...

Cultura e arte são temas que os poderes políticos portugueses consideram enfadonhos e desinteressantes. Por isso são sempre de louvar os MACEs e as FAPs que forem surgindo país fora, mesmo que não sejam perfeitos.

20 julho, 2007 12:35  
Anonymous Anónimo escreveu...

L'Oiseau Rare:
Tem razão no que diz. No entanto, há que reconhecer, o actual governo tem marcado a diferença no que diz respeito às artes visuais, área habitualmente tão menosprezada em Portugal. E também, há que reconhecer, o sector empresarial tem vindo a definir os seus próprios projectos de âmbito artístico. Talvez as coisas, afinal, estejam a ficar menos (ultra)periféricas.

20 julho, 2007 16:56  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Caso estejam interessados, vai realizar-se em Serpa, a partir da próxima sexta-feira, um seminário sob o título genérico «Parque fluvial do Guadiana», son a coordenação dos Arquitectos Antonio Angelillo e João Nunes. Poderão consultar www.acmaweb.com.

20 julho, 2007 21:20  
Blogger A Lusitânia escreveu...

Do Alentejo vos dou notícias, hoje de Elvas. Desculparão esta minha militância alentejana, mas é grande ... e bonito. Poderão ver em Mulheres ao Luar.
E vou, de novo, ao Museu de Arte Contemporânea.

22 julho, 2007 10:20  

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