segunda-feira, fevereiro 12, 2007



[PF #6.] -
Sim, Sim
Venceu o Sim! Mas graças a Deus houve umas senhoras e uns senhores que tiveram
a amabilidade de esclarecer que o país está dividido. Por acaso já sabíamos, mas
obrigado na mesma. Se tivesse vencido o Não, o país não estava dividido, mas como
venceu o Sim, está. E estava e estará, dividido entre o séc. XIX e o séc. XXI. Mas
aquelas personagens queirozianas que dão pelo bom nome de senhoras donas
Matildes, Rosários, Marias Josés, Isildas, Laurindas, etc., e aqueles senhores
professores doutores Qualquer-Coisa e Castro, Rebelo Não-Sei-Das-Quantas, etc.,
etc., podem ficar tranquilos: as criadas lá de casa (as que tomam conta das crianças
da família) e os motoristas (os que levam as crianças ao colégio), já para não falar
dessas estudantes que há agora, ou dessas assalariadas que fazem sexo sem
precauções, e de toda aquela nova casta de mulheres sem princípios, que não
cumprem com os preceitos da santa madre igreja, continuarão a ser olhadas e
atendidas com o devido desdém pelos serviços de saúde, sempre que se atreverem
a ir abortar só porque, como dizia o outro, "o cinema estava esgotado". Para que se compenetrem de que não podem comportar-se como umas galdérias pecadoras que
andam por aí armadas em estrangeiras. Sosseguem, minhas senhoras e meus
senhores: continuaremos a ter respeitáveis técnicos de saúde, veneráveis padres
e meritíssimos juízes que se encarregam de zelar pela moral e os bons costumes,
conferindo assim ao nosso egrégio Portugal aquele toque de encanto... tão nosso!
[PF]

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14 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

É o medo minhas senhoras e meus senhores, é o medo!
Agora que as mulheres até podem fazer abortos até às 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado, o país vai-se entregar à devassidão sexual. Valha-nos a santa madre (é páh madre não é mãe?!) igreja, que já fez saber em toda a sua beatitude que "perdoará" os actos cometidos por "estas mulheres" - acrescento eu, pecaminosas, libidinosas. Porque afinal o problema da igreja não será o aborto (?!), mas sim o sexo, e a capacidade máxima de criar "pecado" e atribuir "perdão", numa atitude que hoje em economia de mercado seria considerada de "monopólio".
Se a mãe de J.C. o concebeu sem pecado, porque é que as outras não fazem o mesmo?! Porque são umas libidinosas, veja-se o exemplo de Maria Madalena - é páh - Santa Maria Madalena - então e agora?

12 fevereiro, 2007 21:50  
Anonymous Anónimo escreveu...

Mister:
Pois realmente consta que a Virgem Maria concebeu por obra e graça do Divino Espírito Santo, o que nos pemite induzir que o papel do pai da criança já era irrelevante há dois milénios. Não se estranha então que os debates sobre o aborto e os artigos de opinião ignorem sistematicamente o papel do progenitor do feto. E das duas vinte e quatro: ou isso significa intenção de desresponsabilizar o pai num assunto que se considera ser "coisa de mulheres", ou então significa intenção de desautorizá-lo na decisão que for tomada. Não é?

14 fevereiro, 2007 01:44  
Blogger bettips escreveu...

Ai o que eu gosto destas tiradas de "Fricção". Abç

15 fevereiro, 2007 15:46  
Anonymous Anónimo escreveu...

PF brinca com o que nos des(espera), mas não deixa de ser inquietante pensar que, mesmo mudando a lei, a mentalidade pode persistir. Veremos.

15 fevereiro, 2007 16:29  
Blogger Aldina Duarte escreveu...

O que eu sei é que nada mais será como antes e o alívio que sinto é equivalente á construção de um temp mais justo!

Até Sempre!

15 fevereiro, 2007 19:54  
Anonymous Anónimo escreveu...

Caríssimo Personagem de Fricção,
:-)

O homem esteve em grande parte da história ocidental afastado dos deveres de casa (o pai ausente), ausente de casa, da família e cuja única responsabilidade era a de garantir o pão. Muito por causa da igreja católica, que sempre olhou para a mulher com um misto de desprezo e medo - ou será inveja? Incutiu na nossa sociedade que elas são as bruxas e as pecadoras, aquelas que desviam o homem e a humanidade do caminho cristão. Mas são também as incapazes, incapazes de tomar uma decisão sozinhas - ao contrário do homem...(!?)

Voltamos assim à tua questão, não está o progenitor a ser desresponsabilizado ou desautorizado?
A minha resposta é não.

Estamos sim a atribuir à mulher o estatuto de maioridade, e a liberdade de decidir antes de mais, sobre o seu corpo e o seu futuro.
Se para além de progenitor for "pai", também o será no momento de decidir, e de assumir responsabilidades. A mulher não pode é estar dependente do aval do homem para decidir sobre si.

15 fevereiro, 2007 22:55  
Anonymous Anónimo escreveu...

Mister:
Muito haveria a dizer sobre a evolução das mentalidades, nomeadamente a partir dos dois momentos cruciais, que foram os anos 20 e os anos 60/70 do séc.XX, no que respeita ao papel da mulher na sociedade. Ainda hoje nos países islâmicos a situação da mulher é a que todos sabemos. Não estamos aí, claro, mas há um caminho por fazer, inclusivamente quanto ao papel do pai, não só quando se trata da educação de um filho, mas também quando se trata de IVG.

15 fevereiro, 2007 23:42  
Anonymous Anónimo escreveu...

Aldina:
Claro, tem toda a razão, a partir de 11 de Fev. nada será como dantes, passàmos a outro patamar.

15 fevereiro, 2007 23:54  
Anonymous Anónimo escreveu...

Obrigado Bettips, por ter apreciado o que chama "tirada". Quanto a Vreemde Vogel, acho que o comentário de Aldina responde a todos nós: nada será como antes.

16 fevereiro, 2007 00:00  
Anonymous Anónimo escreveu...

A questão da decisão conjunta do pai (por vezes somente progenitor, como diz o Mister)e da mãe é que a decisão última é necessariamente a da mulher - é ela que tem o poder de continuar ou interromper a gravidez. Isto não significa que não deva haver partilha do problema e da reflexão que antecede o eventual aborto. Mas não havendo consenso, não vejo como possa prevalecer a decisão do homem sobre a da da mulher sem que isso constitua uma violentação.
É um dado: a mulher tem a faculdade de conceber e intervenções ou decisões sobre essa faculdade devem ser uma prerrogativa da própria.
Serão esta prerrogativa e esta faculdade que estarão na na base da"inveja" de que fala Mister? Pois, é assim...Deus assim o quis.

16 fevereiro, 2007 10:25  
Anonymous Anónimo escreveu...

Querida Bala,

Em relação à tua questão sobre a "inveja" gostaria de partir do seguinte princípio antes de iniciar a resposta - uma mulher que gera um filho, tem com este uma experiência mais íntima do que alguma vez poderá experimentar com outra pessoa.
Talvez por isso a experiência da gravidez seja tão traumatizante e assustadora para algumas mulheres.

Quando levantei a questão da inveja da igreja católica, não respondi pela quantidade de questões associadas.
Pondo a coisa da forma mais simples que consigo, segundo a tradição judaico-cristã, Deus enquanto Adão dormia, retirou-lhe uma costela a partir da qual gerou Eva...
Esta atitude não pode ser entendida como inocente - pretendia-se retirar às mulheres muito do papel divino que tinham até então como geradoras de vida, e pelo seu papel priviligiado de contacto com o que de mais trascendente existe. Afinal até J.C. apesar da "obra e graça do Divino Espírito Santo" precisou do útero materno para vir ao mundo.
Esta é apenas uma das formas de abordar a questão mas existem outras, porventura mais interessantes, tal como o papel divino de Maria Madalena, ou a mulher como objecto de desejo.

17 fevereiro, 2007 00:33  
Anonymous Anónimo escreveu...

Bala,

É isso mesmo!
Eu e mais esta mania de ler na diagonal!

homens!!!
;-)

17 fevereiro, 2007 00:50  
Anonymous Anónimo escreveu...

O dia 11 de Fevereiro passará a ser uma data importante para muitas mulheres, ainda que há muito por fazer...
Sendo o "progenitor do feto" ou o pai importantes neste processo, acho que não se desresponsabiliza, nem desautoriza quando se diz que é a mulher a que tem que decidir.

17 fevereiro, 2007 22:14  
Anonymous Anónimo escreveu...

Pilar:
Não questiono que seja a mulher a tomar a decisão, até porque o corpo é o dela e não o do homem. Quanto a (des)responsabilizar ou (des)autorizar o papel do homem, refiro-me à sua participação e apoio na decisão da mulher em interromper voluntàriamente a gravidez.

20 fevereiro, 2007 02:08  

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