domingo, dezembro 24, 2006

É NATAL, É NATAL



Talvez o Natal seja ainda uma fantasia que os adultos oferecem às crianças e à parte
de si mesmos que permanece criança. Muitos de nós tiveram na infância natais felizes
e ainda guardam a nostalgia de um tempo em que a família se reunia alegremente à
volta de uma toalha branca coberta de iguarias.
Mas que é feito da magia desses natais, da excitação das prendas, do prazer dos
sabores, do cheiro da comida e das velas e do musgo? Para já, uma coisa é certa:
despachámos o subsídio de Natal em prendas e mais prendas, devidamente sugeridas
pelas campanhas publicitárias que nos massacram os olhos e os ouvidos e a cabeça
desde o princípio de Outubro. É indispensável que os subsídios de Natal voltem à
procedência, que sejam rapidamente reabsorvidos pelo "sistema", que é para isso que
nos são concedidos. Chocolates e pralinés, brinquedos vistosos, perfumes quanto-
mais-caros-melhor, roupas de marca ou sem marca, carteiras, cintos, lenços, sapatos,
relógios, CDs, MP3, iPods mesmo quando não se pode, pens, monitores, têvês, telelés
topo de gama, alguns livros...Tudo frenético, numa correria desenfreada, tudo
carregado de embrulhos e mais embrulhos. Quem não tem posses para ceder à
pressão das estratégias de marketing, resolve a coisa nas lojas de chineses. E pronto,
toca a distribuir as prendas que, claro está, têm que corresponder às expectativas,
porque os afectos se medem pela satisfação dos caprichos materiais. Mas...e agora?
O que é que vamos fazer agora que se reinstalou a sensação de vazio, e desta vez
também na carteira? Ah pois, agora toca a comer e comer e comer. A seguir logo se
vê. É mais ou menos nisto que se tornou o Natal da nossa infância, não é? Penoso,
cansativo, deprimente, dispendioso. E realmente como alguém disse: não somos
mais que consumidores consumidos.
Seja lá como for, quero desejar a todos os visitantes Boas Festas!
[P]

Objecto > Daniel Spoerri (n.1930), Suíça
> Hahn's Supper (Tableau-piège), 1964, mesa de madeira e vários objectos,
Col. MuMoK (Museum Moderner Kunst), Wien

Pesquisar Spoerri
http://www.danielspoerri.org
http://fr.wikipedia.org/wiki/Daniel_Spoerri
http://www.the-artists.org/ArtistView.cfm?id=239B65EB-C5CF-11D4
http://www.findarticles.com/p/articles/mi_m1248/is_7_90/ai_88582348
http://www.centrepompidou.fr/education/ressources/ENS-nouvrea/ENS-nouvrea.htm
[R]

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7 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Parece-me que há vários Natais. Não me vou queixar do meu, que conseguiu fugir à grande confusão das compras (questão de organização)e que foi uma festa de afectos e quero acreditar que o foi para muita gente. Mas concordo com Propranolol quando refere a febre consumista devidamente alimentada por todo o aparato comercial e publicitário que a rodeia. O momento de reunião com a família poderá ser reduzido às comezainas e às prendas se mais nada houver para partilhar...o vazio não se instala por causa do Natal, já lá estará eventualmente antes dele e concerteza não serão as prendas que o irão preencher. Quando estas simbolizam algo mais do que a obrigação ritual, o Natal pode lembrar os cheiros de infância. Felizmente, para mim, de todos os ingredientes que Propranolol menciona, só me faltou o musgo. Viver o Natal com o nosso lado infantil também depende de nós.Quando as circunstâncias deixam, é verdade.

26 dezembro, 2006 11:42  
Blogger bettips escreveu...

Além da imagem que nos sugere o abandono da mesa (de Natal), um texto que nos toca com as asas de um sonho infantil. Mas mesmo assim, "quando as circunstâncias deixam" que vos seja Novidade e Cultura o ano de 2007. Fiquem Felizes!

27 dezembro, 2006 19:22  
Anonymous Anónimo escreveu...

Bala:
Felizmente tiveste um bom Natal. Também não me queixo do meu, mas penso que esta época do ano se transformou numa espécie de símbolo do consumismo exacerbado da sociedade actual, em que as prendas tendem a ser banalizadas em detrimento da característica inicial de atenção para com pessoas que nos são queridas ou significativas. Deixamo-nos manipular pelas manobras da publicidade, que são cada vez mais "agressivas": apropriam-se das tradições criando novas necessidades e gerando assim novos lucros, a um ritmo imparável. E atenção que não tardam aí as próximas estratégias, seguramente cada vez mais sofisticadas e mais sedutoras: Dia de S. Valentim, Carnaval, Páscoa, etc., etc.

28 dezembro, 2006 00:00  
Anonymous Anónimo escreveu...

Exactamente, Bettips, faço minha a sua intenção: que 2007 traga novidades que sirvam para alguma coisa. Se for Cultura...já não é mau! Embora não erradique a pobreza nem elimine os gazes com efeito de estufa. Pelo menos a curto prazo...

28 dezembro, 2006 00:16  
Blogger Insignificante escreveu...

fiquei deprimida! :D:D

Um feliz 2007!

29 dezembro, 2006 13:58  
Blogger R.O. escreveu...

Ó Insignificante, desdeprima-se lá, vá...olhe a passagem de ano tão linda a chegar! Bom 2007!

29 dezembro, 2006 16:04  
Blogger armandina maia escreveu...

que felicidade que é chegar aqui e ver a mesa ainda posta. este blogue é mesmo um espanto. vertiginosamente crescente, como lhe cumpre.
bom ano
armandina

31 dezembro, 2006 14:45  

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