sábado, abril 29, 2006

[citação 2]
QUEM NÃO DANÇA



Quem não dança não sabe o que se passa.
> Hino gnóstico, séc. VII
[R]

[Adenda]
> José Gil (n. 1939), in Metamorfoses do Corpo, 1980

Se a dança tem sempre um carácter «divino», isto deve-se ao facto de se situar
aquém de qualquer sintaxe, qualquer que seja a gramática ou o léxico que sirva
nesse momento. Fundamentalmente, dançar significa confundir o léxico com a
gramática, de tal modo que os gestos não reenviam a nenhum sentido fora dos
movimentos corporais; nesse aspecto tudo está a descoberto na expressão, não
há nada escondido, nem nenhum mundo oculto; espécie de levitação que se basta
a si mesma, com o seu espaço e tempo próprios, a dança traz em si e perante todos
a chave da inteligência do corpo. O dançarino é simultâneamente o papel, a pena
e o grafo, sendo o espaço que o seu corpo desenrola aquele em que, eventualmente,
se inscreve o signo que é o próprio corpo.
[R]

> Fotografia (s/a, s/t, s/l, s/d, s/p)

Não é nosso hábito publicar imagens sem uma pequena ficha de identificação de
autor, título, local, data, proveniência. Abrimos hoje excepção,
com uma imagem
não legendada do nosso arquivo digital, porque queríamos assinalar o Dia Mundial
da Dança com este voo, sobre a passadeira vermelha dos cravos.
Provamos assim que os milagres existem: através da capacidade que uma fotografia

tem de suspender para sempre o movimento de um corpo e, simultâneamente,
através das duras técnicas de dança que permitem a um bailarino transfigurar-se
em ave.
[R]

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4 Comentários:

Blogger armandina maia escreveu...

"o amor é uma ave a tremer nas mãos de uma criança" . foi o Eugénio Andrade que disse, e lembrei-me que este voo sem rede tem se calhar alguém a tremer, na felicidade do "voo cego a nada.
muito lindo!
armandina maia

29 abril, 2006 22:21  
Anonymous Anónimo escreveu...

Grato Armandina.
Creio que o voo dos bailarinos, quando é voo, tem a densidade de um poema.
E repito, e repito, e repito, especialmente para ti pela força que me dás querida Armandina, sempre o Ernesto de Sousa: "Révolution je t'aime encore".

29 abril, 2006 23:07  
Blogger João Dias escreveu...

Além do arrepio na espinha que me causa este voo cego, sugere-me também a alegria dos breves instantes de alienação da realidade. Assim sendo voamos "às cegas" para por breves instantes sentirmos a felicidade de ignorar o destino.

30 abril, 2006 15:01  
Blogger RatherCynical escreveu...

"I won't dance, don't ask me
I won't dance Madame with you
My heart won't let my feet do things that they should do".

01 maio, 2006 00:10  

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