sábado, janeiro 21, 2006

ULTIMATUM

"O povo completo será aquele que tiver reunido no seu
máximo todas as qualidades e todos os defeitos.
Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades".

José de Almada-Negreiros, in "Ultimatum futurista às gerações
portuguesas do século XX", Portugal Futurista, 1917


Em plena 1ª guerra mundial, muitos artistas de vanguarda
reagiam violentamente contra os poderosos de então,
responsabilizando-os pelo estado de crise em que a Europa
mergulhara. Mas como sabemos, desse estado de crise
emergiram oportunidades que o "pensamento europeu"
soube agarrar. Também em Portugal a crise abria promessas.
Fernando Pessoa (através de Álvaro de Campos) e Almada
Negreiros, escreveram ambos os seus violentos Ultimatum,
publicados no Portugal Futurista (1917), exortando os
portugueses a sair da sua periférica letargia.

No Portugal de hoje, passadas nove décadas, a crise é uma
palavra corrente, banalizada pelos media e pelos "mandarins"
que dela se alimentam. Mas não se trata aqui de uma crise
provocada por guerras (pelo menos no sentido convencional),
mas de uma profunda crise de valores culturais e políticos, que
abrange o país inteiro e, particularmente a Esquerda, como fica
demonstrado pelas desastradas estratégias partidárias que
deram início a uma batalha eleitoral entre exércitos fraticidas,
divididos pela ambição, alheados das astutas contagens e
recontagens de espingardas do "grande"adversário, e mais
interessados em ampliar os muros dos seus quintais do que em
travar o retrocesso do país.

Dói, ver que a crise de valores em que nos encontramos
atolados, parece mobilizar poucos. Como se tudo se
resumisse às dificuldades financeiras, ou á capacidade de
aquisição de televisores e frigoríficos.
Dói, ver que a necessidade de um salvador significa que
muitos continuam a demitir-se das suas responsabilidades
individuais, salvando-se a si próprios da mediocridade.
Dói, ver que os valores ideológicos antes debatidos na Europa
e no Mundo foram substituídos pelos valores omnipresentes
do mercado. E que também as artes se mercantilizaram,
tornando-se incapazes de intervir na vida pública, de serem
motores de civilização.

Em dia de reflexão pré-eleitoral, resta acreditar que o tal
"máximo das qualidades e defeitos", não abandone o verdadeiro
estadista da nossa história recente. Acreditar que os exércitos,
enfim reunidos, se concentrem no essencial, questionando o que
andamos todos a fazer por aqui. Acreditar que o povo que somos,
no país que amamos, ainda nos pode surpreender.

Votos sinceros... de boa reflexão! Sejamos "o povo completo"!

1 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

A propósito desta boa reflexão aconselho uns ditados! afinal nada melhor que a sabedoria popular...
Sabedoria Popular

21 janeiro, 2006 22:24  

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